terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Boa nova

Recebi notícias do chefe. Comunica-me que não sou precisa no turno da noite de passagem de ano. Poucos doentes internados, enfermeiros dispensados. A Diana é um deles.
A Diana sou eu :). A Diana rumará à praia e no Algarve receberá o ano novo à brasileira.

Será em grande:) Bem-vindo seja 2009.
E feliz ano para todos.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Desabafos

Hoje, a caminhar à chuva, nesta terra quase deserta, senti uma paz como se fosse verão.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Tarde quentinha à beira-rio

-Dás-me umas asas? Queria voar como as gaivotas.
-Mas podes voar quando quiseres, basta que feches os olhos e desejes muito.
Fechou os olhos com força e começou a dar aos braços enquanto dizia:
-Tenho os pés presos ao chão! Não consigo.
Eu de olhos fechados ao lado dele respondi-lhe
- Isso é porque não acreditas! Tens que acreditar com muita força. Não duvides e imagina-te no céu. Olha para mim, já estou a dançar com as nuvens.
-Tia, tu és um bocadinho maluca não és?

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Trava a Mota Zé II

O V. meu companheiro de casa, em choque faz me a seguinte questão: “sabes quem me perguntou se me diverti no Zé Dias na sexta-feira à noite?” quem? “ a mulher da peixaria do pingo doce”. “Será que vou muitas vezes ao pingo doce?”
Não homem. Nunca tinhas era ido ao Zé Dias antes.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Trava a mota Zé!

Fomos ao Zé dias comemorar o natal. A discoteca cá da terra.
Lindo!
Se queres ver as últimas fatiotas da noite de S. Brás, vai ao Zé Dias.
Se queres reencontrar as caras da terrinha mesmo sem saber os nomes, vai ao Zé Dias.
Se queres simplesmente dançar muito e rir ainda mais, Pega no P. Correia e bora pró Zé dias!
Se queres ver o teu chefe transformado em super bailarino vai ao Zé Dias.
Se queres ser pedida em casamento e ser chamada de boa… vai ao Zé Dias!
Se queres ouvir um dos auxiliares embriagados dizer-te “ eu nos meus tempos livres sou PJ” vai ao Zé Dias.

E se voltares. Que valha igualmente a pena.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Pequenos males, pequenos remédios

Para lutar contra quilo que sinto hoje inscrevi-me num segundo ginásio. É um defeito meu, não saber esperar para ver o que acontece.
Atreve-te só, inquietação de um raio, tentar tomar conta de mim. Pegarei em pesos de 5kg e exportarei estas energias negativas todas para o lugar de onde vieram. Cá comigo não se safam não. E se for preciso juntar-me aos que gritam enquanto se esforçam muito, que assim seja.
Aqui dentro não ficas. É que nao ficas mesmo. Ai num ficas não.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Caos

Vinte e poucos doentes que almoçam no mesmo refeitório.
Um engasga-se. Outro ri-se do que se engasgou até vomitar. O que vomita exige atenção imediata. Os outros comem.
Lá no fundo um ri-se do que se ria do engasgado. Ri-se até urinar. O que urina exige atenção imediata. Os outros comem.
Mal acabam de comer tencionam quase todos, atenção imediata aqui agora e já.
Tenho que urinar! Tenho chichi! Tenho cocó! Estou mal disposta! Quero os comprimidos! Quero água! Quero-me deitar! Preciso de ajuda!
Os que me fazem mesmo lamentar tudo isto, são os serenos. Os que aguardam pela sua vez e falam com educação. E se queixam pouco. E pedem calma aos que gritam. E sabem o que recebem em troca? São sempre os últimos. É um bocadinho triste este ciclo que se cria. Mas quase sempre é assim que acontece.

O meu pedido de natal

Já que se pode pedir e desejar tudo o que se quiser nesta altura do ano eu não vou olhar a meios.
Só que, o que eu queria mesmo mesmo, assim muito, era um filho.
Um filho meu.
E receber a noticia e ver a barriga crescer. Amá-lo muito.
E senti –lo ao nascer. E dar-lhe um nome.
E ser mãe.
Eu gostava muito. De ser mãe.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Noite dentro

Directamente de mais uma noite de trabalho, já só penso na minha cama quentinha nos meus lençóis e no meu escalda sono. Se as noites são longas no verão, neste inverno parecem não ter fim.
Corredores fora, campainha que toca.. e outra e outra. Já pensei trazer uns patins.
Não há nada que pague o nosso sono.
A não ser o amor pelo que se faz.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Tu

Diga-me lá D. M. com que terapeuta está hoje?

-"com o dos olhos grandes"

:)

domingo, 23 de novembro de 2008

Dás-me um beijinho?


Sou uma tia típica, daquelas que apertam bochechas e roubam beijos na boca. Daquelas que estão sempre de volta deles e fazem perguntas sobre tudo, e jogam futebol obrigadas. Daquelas que não perdem uma noite em que possam dormir pertinho e sentir o cheirinho do sono profundo de uma criança. Também gosto de os obrigar a dizer que sou a tia mais fixe do mundo.

Acho que a única coisa que realmente lhes ensinei foi a liberdade de um verdadeiro arroto mas também lhes digo sempre que não há nada melhor do que um abraço.
E se tiver um beijinho… maravilha perfeita:)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Uma lampreia na minha vida.

Eu ando a ferver. Borbulha sangue dentro de mim. Converso noite dentro com a voz da minha consciência e tento arranjar explicações. De um lado para o outro na cama, horas que passam e a minha cabeça não pára.
Voltei a fazer Reiki. Ontem. O meu coração batia tão forte e eu queria acalmar-me. O cansaço faz-me perder o que de mais precioso tenho. A calma e a tranquilidade.
Tive vontade de lhe acertar com a canadiana na cabeça. E tinha-lhe batido com toda a força. Quando lidamos com pessoas, não podemos estar à espera de encontrar em todas elas a educação e o respeito. Mas eu estou sempre. E, na profissão que escolhi tenho de sempre e todos os dias, responder e lidar com a pior das situações sem nunca perder a cabeça.
Se eu a tivesse perdido elevava o meu tom de voz ainda mais do que tu e com toda a minha força batia-te. De cabeça perdida mas alma lavada.
E pronto.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Riiiiiitaaaaaa

A falta de uma amiga mulher na vida de outra. Há coisas que não dizemos aos homens por mais amor e confiança que tenhamos neles.
Tenho saudades da Rita. Tantas. De te encontrar em casa ou de voltar para lá contigo. Sinto falta de quem me acompanhe nas cantorias matinais. De quem mande berros mais histéricos do que os meus.
Minha super enfermeira… não queres voltar para mim?

domingo, 16 de novembro de 2008

O que é dificil?

Fui a Faro acompanhar o Sr. V. a tirar o passaporte. Fomos nas ambulâncias dos bombeiros, veículos medonhos de tão velhos fartos de subir e descer a serra. Ele deitadinho na maca, eu num banquinho sentada ao lado dele. Ponho-lhe o meu braço por cima do peito para garantir que não cai na curva seguinte.
Chegámos. A entrada no edifício não foi fácil, subida para o passeio também não. A cabine de atendimento é pequena de mais para quem está sentado numa cadeira de rodas e o balcão, alto, não permite que um deficiente se desenrasque por si só. A máquina que tira as fotografias não conseguiu nenhuma que servisse. A câmara estava a um nível que não possibilitava que a fotografia fosse aceite para o documento.
Parte de assinar. O Sr. V. pede-me a sua tala. Uma ajuda técnica, em forma de luva que encaixa na sua mão e lhe permite colocar lá uma caneta para que escreva. Acontece que agora, com a digitalização da assinatura a caneta é uma específica, mais grossa do que as habituais e não cabia na tala.
A determinação não o deixou desistir. Falha a trás de falha e ele sempre, a adaptar-se, a ter esperança, a pedir ajuda a tentar planos alternativos.
-“ Enfermeira segure-me na caneta. Encoste-a à tala e apoie-me o punho!”
E tentou. Tentou.
Muito diferente da assinatura do B.I. o sistema deu erro.
Tentou de novo. Trémulo, suado. Tentou e tentou.
-“Segure bem enfermeira! Segure bem!”.
A funcionária, muito simpática e cuidadosa, também ela embaraçada e triste com a situação ia assistindo comigo a tanta discriminação e tentando remediar como podia.
Tentou explicar que não ia ser possível. E eu tentei explicar-lhe as dificuldades que um tetraplégico tem. As limitações. O quão difícil seria para este homem, na sua condição física, fazer duas assinaturas exactamente iguais.
E ia pensando como era isto possível. Como?
A frustração deixou-o muito triste.
Deitadinho na maca, com o meu braço por cima voltámos para a ambulância e regressámos. Pelo caminho voltou a rir-se, com as peripécias da viagem. Serra acima, eu a contar os sinais vermelhos que passávamos, a forma como isto me faz tremer, os enjoos. O medo que as fitas que o seguram se soltem, como infelizmente também já aconteceu.
As minhas queixas que o fazem rir. E é bom saber isso. A mim também deviam fazer.
A nós todos.

sábado, 8 de novembro de 2008

Coisas incríveis

Mudei de casa mais uma vez. Acho que a 6º de há dois anos para cá. Esta ultima é realmente boa. Moradia e não apartamento, com espaço ao ar livre, quarto com cama grande, muito sol e mais espaço.
Único senão: Dividi-la com dois homens.
Não vou começar já com observações ásperas mas tenho me perguntado. Porque raio um homem não vê uma saco do lixo centralmente colocado à saída de casa? E o contorna vezes sem conta?
Eu coloquei o lá. Deixei-o. Vi-o a ponto de o observar. Contornei-o também. Tive esperança.

Hoje desisti.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Entre mudanças

Desde que a Rita partiu de regresso ao norte passei por uma nova fase de adaptação. A Rita não era para mim apenas uma colega de trabalho e uma companheira de casa. A Rita é minha amiga e eu sinto muito a falta dela. Numa bela manhã apareceu-me lá no serviço com a novidade de que voltava para o norte no dia seguinte. Não que eu já não soubesse que isso estava prestes para acontecer, mas no momento em que aconteceu vi logo que nunca podia preparar-me para tal.
Pronto.
Ritinha:) Vê lá.. continuo a contar contigo para a festa Dacing Queen.
Voa.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Assim acontece

Quando se leva um homem gigante ao WC, na sua cadeira de rodas, e quando lá chegamos, o temos de levantar, manter de pé e despir, e sabendo que ele apresenta dificuldades motoras, desequilíbrio e falta de força em metade do corpo, o convencemos que, sem que eu própria entenda como, ele pode confiar em mim, eu penso:

Só pode ser a farda branca que tem poderes.

Oração

Peço ao senhor que me devolva o verão.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Música do Mundo


Porque a música une as pessoas. Porque a música liberta, desincorpora e alegra, o final da noite de ontem foi memorável.
Coliseu dos Recreios de Lisboa, Thiveriey Corporation, ao vivo. Foi simplesmente ma-ra-vi-lho-so. Voltar a dançar e a sentir vibração.
Sem pensar, só sentir.
Gosto muito.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Azinheira




Continua para mim a ser um lugar de eleição. Esta deslumbrante azinheira está aqui pertinho do sítio onde moro e descobri-la foi amor à primeira vista.





É grandiosa tem ramos compridos, parece que nos abraça e quase consigo tocar-lhe.





Mesmo sem sol continua linda.

domingo, 12 de outubro de 2008

Asas para que vos quero.


As pessoas para mim podem ter asas. Eu criei as minhas e não mais parei. Podemos ter coragem e arriscar.

E partir. E voar.
Tenho um amigo audaz, sinto também que protegido pela sorte, que se sentindo pequenino num país como o nosso, partiu para um lugar diferente.
A mim, uma experiência fora de Portugal mudou-me radicalmente. Fez-me ver o mundo com outros olhos, palpar a grandiosidade do mesmo e principalmente, permitiu conhecer-me melhor a mim própria.
Quando morei no Brasil, no primeiro mês senti que seria difícil voltar. Tudo era novo e o novo encaixava perfeitamente em mim. É fácil um coração tornar-se brasileiro. Quando regressei incentivei todos os que se sentiam tentados a viver uma experiência semelhante.
O meu querido Lopes é um deles. Está em Barcelona a tentar a sua sorte.
Gosto de ti meu amigo.


Voa, o mundo é grande;)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Eu sou um homem feliz


Ruy de Carvalho iniciou o seu discurso numa gala da TVI dizendo:

"Eu sou um homem Feliz"

Eu gosto de ouvir alguém dizer sem receios nem justificações que é feliz. Assumi-lo assim, pura e simplesmente.
Obrigada .

sábado, 27 de setembro de 2008

Meu querido e doce G.

Há pessoas que são realmente especiais. Que vivem num terrível grau de dependência mas mantêm uma atitude tão correcta e serena perante a sua situação. Por serem exemplos de vida, para mim e para todos, passo muitas vezes algum tempo extra-trabalho a pensar neles e a tentar compreender, assim de longe, como conseguem manter-se tão apaixonadamente abraçados à vida.
O G. é um homem tão grande. Tão grande e tão doce. Tão grande e tão meiguinho. O G. não é português mas foi por cá que sofreu um acidente e ficou tetraplégico. Fala português correctamente, baixinho e devagarinho com toda aquela calma que o caracteriza. O meu coração enche-se de orgulho por dele. Porque é sempre tão gentil e porque tem um sorriso tão verdadeiro, tão inspirador.
Não podia falar do G. sem que imediatamente me lembre da sua mulher. A sua dedicação diária e incansável é das mais bonitas declarações de amor que presenciei. Ela pega nele sozinha e cuida dele sem que precise de mais ninguém. Atendendo ao seu tamanho e ao seu peso concluo que o amor entre duas pessoas, assim verdadeiro, cria forças sobrenaturais.
Ontem eu vinha a sair, e ela a chegar. A pedalar serra a cima na sua bicicleta. Lá ia cheia de força, daquela que tem origem cá dentro e a faz não ter limites, ou pelo menos a permite ultrapassá-los. O G. nunca está sozinho. Mas sei que ele merece. Merece por ser como é. Um homem muito para além de um corpo, e amado, muito amado para além disso também.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Vitaminada


Andava a arrastar-me. Entre noites manhãs e tardes, seguidas e a todo o vapor, o meu corpo já não conseguia acompanhar o meu horário de trabalho.
Houve mesmo uma manhã em que pedi ao meu colega M. uns minutos de compaixão e deitei-me na marquesa do serviço para ver se respirava melhor. Tenho má cara. É certo que o verão passou, o bronze já se foi, e o mau aspecto que a minha palidez revela não esconde as horas de sono em falta. Sentia-me profunda e completamente exausta.
A Nat, minha salvadora em todas as horas, recomendou-me estas vitaminas. São naturais. São maravilhosas. E eu sinto-me cada vez melhor. Adormeço e durmo horas seguidas, acordo com energia, aguento as noites de trabalho sem ter medo de desfalecer a qualquer momento e deixei de pensar que o meu coração pode parar a qualquer instante.
Eu precisava que a neurótica Di se fosse embora e que eu e a minha energia voltassem.
Benditas, benditas sejam.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Outono

O Outono chegou com cheirinho a terra molhada.
Eu gosto do Outono.
E de beijos.
E de ti.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Cair do Céu

Não sou da família do Paulo Bento mas a tranquilidade fica-me mesmo bem. Para mim estar tranquila é estar em paz, profunda paz interior. Todos os outros maravilhosos sentimentos que possam vir até mim, na tentativa de me deixar e fazer feliz, de nada valem se não trouxerem consigo, tranquilidade.
Esta.
Buscas incessantes por ela marcaram fases específicas da minha vida. Houve alturas em que mesmo tendo um aparente quase tudo eu tinha um desassossegado quase nada pela ausência da mesma.
Não me atrevo a pensar sequer por instantes, que não a mereço nesta plenitude como a sinto agora. Mereço sim. Mereço este bem-estar, mereço este dia a dia em que me sinto útil, realizada e feliz.

"Se eu escorregar
céu abaixo
atiras-me um cometa
para me paraquedear
ou então
põe-me uma nuvem
branca e escura
como uma cama de água quente
embaixinho dos meus pés
para eu me deitar
ou então
joga-me o sol
como um balão brilhante
iluminando a fogo e ouro
o meu escorrega céu abaixo.”

(Cair do Céu-Maria João e Mário Laginha)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Grandes vitórias.

- D. M. já deitada a estas horas?
- Levei uma tareia enfermeira (olhinhos que brilham)
- Que aconteceu? Treinou muito no ginásio foi?
Confessa-me entre sussurros e sorrisos.
- Hoje voltei a andar. A terapeuta C. foi ao meu lado e andei 90 metros com o andarilho.

Mesmo quando se tem quase 75 anos é bom ver a esperança a determinação e a vontade de recuperar. Melhor ainda é o dia em que encontro os meus doentes, tão dependentes no início do internamento, a caminharem, mesmo que com ajuda e passos pequenos. Vê-los treinar todos os dias, ver o esforço e empenho de toda uma equipa que trabalha junta para reabilitar.
Os dias das pequenas e grandes vitórias fazem com tudo valha a pena. Mesmo quando se vivem algumas frustrações.
Nesta noite a D. A. adormeceu mais feliz do que nunca e na manhã seguinte queria ser a primeira a voltar para o trabalho. Fico a vê-la ir, corredor fora, cabelinhos brancos, passo a passo.
E sinto muito orgulho.

sábado, 6 de setembro de 2008

Maravilhas.

Dormir. Dormir e dormir.

Acordar com a chuva lá fora.

Olhar assustada para o despertador.

É sábado são 8h da manhã.

Estou a ouvir chuva no Algarve.

Voltar a adormecer.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

As coisas, como são.

Uma atitude positiva perante a vida é para mim uma coisa que se aprende. Que se adquire com muito esforço e empenho. Não nascemos optimistas ou pessimistas. Decidimos sê-lo em momentos cruciais.
Faço transformações diariamente. Positivas, em relação a mim e a todos que estão comigo perto ou longe. Fecho os olhos e envio energias positivas que alimento com amor todos os dias.
Ainda não desisti de encontrar a chave do carro. E os meus poderes profundos aplico-os tanto a factos banais como este, sem importância e completamente substituíveis, como nos que acredito, se calhar sozinha e sem saber porquê.
No dia em que perdi a chave do carro e andava com cara de morta viva, com uma impressão no peito que já não sentia há muito tempo, deu entrado no serviço onde trabalho a A. Pela primeira vez senti que poucos ganhos conseguiríamos. O acidente que sofreu deixou a A. num estado físico brutal. Revoltei-me comigo. E pensei. Porque não acreditas em nada? Será isto a chamada imunidade que se adquire com o tempo de serviço? Estarei apenas a ser realista?
Durante a noite, encontrei a A., que não fala nem se exprime muito, nem tem como dizer o que sente, nem se consegue mexer, nem gritar, encontrei-a quietinha e calma. Olhos bem abertos, repletos de lágrimas. Chorava sozinha e em silêncio. Deixei-me estar perto dela. Não lhe disse que estava tudo bem, nem que ia ficar boa. Peguei numa toalha, limpei-lhe as lágrimas e deixei-a chorar. Apaguei a luz e saí.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Doutor, preciso de ajuda.

Ser esquecida distraída e tonta. Dou por mim a perder metade do meu dia a remediar o que faço de torto na outra metade. A ir buscar o que me esqueci, a trazer o que levei comigo por engano, a dar um recado que ficou por dizer. Dou por mim a esquematizar várias soluções para este meu problema. Perco com isto aquelas horas que se prolongam para além das 24 de um dia normal que apenas se atribuem a pessoas normais, algo que não sou, para grande pena minha.
Perdi por ultimo, depois da chave do cacifo, do cartão Multibanco e uns óculos de sol (reencontrados horas depois por amigas dentro do meu próprio carro, tendo eu viajado horas em cima dos mesmos), perdi a chave do meu carro. Este último facto deixou-me em pleno estado de perturbação no resto do dia.
Quem me dera ter tudo gravado na minha mente. Andar para trás e para frente com a fita. Não antecipar e corrigir o que faço de mal, mas rever o exacto momento em que me escapa sempre qualquer coisa.
A minha mente não grava. A minha mente desliga.
Como me disse minha querida Rita. Não há nada que a uma boa noite de sono não cure.
Desejo arduamente que isso seja verdade.

sábado, 30 de agosto de 2008


Há que ir e voltar. Voltar:)

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Desligar o botão

Quem trabalha na saúde (para que não perca a sua), precisa de uma pausa. Uns dias sem pensar em dores, frustrações e pressas. Tempo para reencontrar os amigos, receber abraços, voltar a chamar finos à cerveja fresca, sentir o vento do norte, tirar fotos e dançar rancho. Comprar broa e comê-la com a Nat até mais não poder.
De sul a norte ou o sentido inverso. O caminho para casa já o sinto em ambas as direcções.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Susto

Não gosto de conhecer doentes durante a noite. Sou no fundo uma cagarolas. Tenho medo de olhares que não conheço. Sim é verdade. Apanho sustos com facilidade, e demoro muito a achar graça a isso.
Na última noite que fiz, na volta da 1 da manhã entro na enfermaria 8. Calmamente sabendo da existência de dois doentes que entraram durante a tarde, não conhecendo nenhum dos dois.
Entro de mansinho e quase morro de susto ao entrar. Mesmo à minha frente, semi deitado num cadeirão, um homem nu, com um olho aberto e outro fechado, que se levanta velozmente à minha chegada e pergunta com voz grossa – “QUEM ÉS TU?”
Amarro as mãos ao peito e quero fugir. Tremem-me as pernas mas acho tudo ridículo. Encaminho o senhor para cama e peço-lhe que durma. Saio mal posso. E só passado algum tempo me rio um bocadinho:)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Ser pequenino

Pequenino num mundo de grandes. Tenho pensado tanto nos meus doentes. Tanto que pode até ser demais. Tanto ao ponto de achar que ou começo a desligar um pouco ou a minha envolvência me trará algumas dores.
Sim sofro com vocês. Com todos os que vejo diminuídos num mundo ainda muito egoísta e despreparado para vos receber. Sofro pela vergonha que sentem perante um perda fecal ou de urina, à minha frente, ou à frente de todos. Sofro quando vos vejo caídos e a minha alegria me parece parva. Quando chego e não querem acordar. Quando vos obrigo a suportar um erro meu, fruto da minha inexperiência. Quando peço a um tetraplégico que me diga se o magoar durante uma algaliação, tendo perfeita noção que a falta de sensibilidade não lhes permite aceder ao meu pedido.
Quando não tenho tempo.
Ninguém me ensinou na escola a lidar com a dor interna e profunda de alguém. Nem a aliviá-la. Nem me ensinaram a lidar com esta frustração profunda que me atormenta. Valem-me os meus próprios doentes e a forma como cuidam de mim. A forma tão paciente e bondosa com que cuidam de mim.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Apetece-me

Ler livros para crianças.
Comer gelado de limão.
Andar de mão dada.
Mergulhar.
Adormecer de janela aberta.
Correr para Viana e reencontrar os meus sobrinhos.
Abraçar a Mel (e sentir o cheiro dela e ouvi-la e dar lhe beijos)
Andar descalça.
Acreditar.
Dormir.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Pinturas

Não me canso de falar do meu trabalho. Da forma como ele transformou a minha vida. Se eu pudesse, faria visitas guiadas, apresentava os meus doentes e dava voz às suas histórias. Abria os olhos daqueles que parecem cegos perante a vida que têm.


Tive a oportunidade de lá levar a minha Nat. Para mim a Nat tem poderes. O seu toque sempre me acalmou, desde pequeninas. Levei a Nat ao centro para pintar com o R. O menino de olhos grandes e azuis de quem já falei um dia por aqui.
O R. gostou, esbugalhou os olhos azuis e ouviu tudo direitinho. Só ainda não falou porque ainda não chegou a hora. Mas eu acredito que não falta muito. Se acredito:)

Mini post


A minha ausência deve-se ao facto de viver a 1000 à hora todos os dias. Entre visitas dos melhores amigos, muito trabalho e muita praia não tenho um minuto que sobre.
Sinto me feliz, tão feliz como nunca me tinha sentido antes.







O Vitó é um dos meus melhores amigos e dos melhores enfermeiros que conheço. Desde segunda-feira que trabalha comigo. Só descansei quando o tive perto de mim e dos doentes do centro. Todos agradecemos.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

If only I Could

Não tenho jeito para conversas difíceis. Não tenho o dom da palavra nem sei usá-las bem para transmitir o que sinto. Gosto mais de ouvir e do toque, ou então conversas leves, de riso e descontracção.
Acompanhada da minha colega de trabalho e amiga R. fizemos companhia ao P. enquanto ele estava a realizar um tratamento. O bom deste serviço onde ambas trabalhamos, é a possibilidade de nos relacionarmos com os doentes desta forma tão próxima. Tinha tempo para ouvir a sua história mas não foi fácil fazê-lo.
O que dizemos a uma jovem, activo, militar, cheio de amor pela vida, que adora festa e divertimento, cheio de amigos de todos os feitios, cheio de sonhos. O que dizer perante a sua historia?
Num domingo de manhã o P. ia na sua mota. Devagarinho disse-nos ele. À velocidade que um domingo de manhã costuma exigir. Num cruzamento “ela diz que não me viu” e “embati contra o seu carro atravessado de repente no meio da via.”
O P. deixou logo de sentir as pernas, nunca perdeu a consciência e nunca mais voltou a andar.
Foi impressionante para mim ouvi-lo e por diversas vezes tentei controlar-me para não chorar. A conversa foi dura e difícil sem que o tenha sido por um único minuto sequer.
O P. é estranhamente calmo, consciente da sua situação e educado. O P. não tem esperança de ser quem já foi porque sabe que isso não acontecerá. O P. não chora.
Quando o tratamento acabou despediu-se de mim e disse:
- “Temos que conversar mais vezes, mas da próxima vez sobre o Porto”

Down the middle drops one more grain of sand
They say that new life makes losing life easier to understand
Words are kind they help ease the mind, I'll miss my old friend
And though you´ve got go we'll keep a piece of your soul
One goes out, one comes in

You know that I would now
If only I could

(Jack Johnson)

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Algarve

Sentir-me almariada é algo que me caracteriza. Comer Gaspacho a toda a hora e não parar de dizer que adoro. Ficar na praia até as 8. Apreciar o areal quase deserto (um dia na praia uma simpática senhora disse pra termos cuidado com um lacrau que andaria supostamente entre a areia.. um lacrau.. pois claro:))
Pedir a atenção do outro dizendo “ escuta!”. Usar o gerúndio.
Para uma minhota de gema, difícil é deixar de cantar enquanto se fala. Mas que gosto do Algarve, do sotaque, da comida, do calor…. Hummmm cada vez mais.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Sim, pedi ao Pikuz que escrevesse nestas bandas:)

Antes demais quero desde já avisar que isto é uma cena experimentalista. A pobre Diana teve um momento de fraqueza e pediu-me para escrever um post... o que vale e que ela amanhã já estará melhor, vai reparar no erro que cometeu e vai tratar que isto não volte a acontecer! Provavelmente vai falar com muito menos regularidade comingo pelo messenger... e depois virá com a conversa de que "ai e tal, muito trabalho... isto de ser enfermeira no Algarve é muito duro e tu sabes que eu sou pequenina... eu nunca tou online, percebes! É que deixo o computador a fazer downloads e tal...".
Bem, mensagens do paragrafo anterior: (1) eu não papo grupos, principalmente no que toca a fazeres downloads Di... n tentes... para isso mais vale seres poeta como o Pélé e o Eusébio... caladinhos... :p ,(2) não liguem a isto! É mesmo uma perda de tempo! Então os próximos parágrafos... pfff... boa sorte para vocês, seus perdidos...
Antes demais, quero dizer que estou de pazes quase feitas com a FPF. O Scolari já não é nosso seleccionador. Eu sei que vocês, senhores da FPF, andam por aí a imbestigar e "coiso" mas, pelo menos, façam o esforço de não contratar nabos com sotaque tropical, que de carnaval percebem muito, mas de bola que é o que interessa, pouco ou nada manjam...
Agora, falo sobre o petróleo. Isto tá de loucos, e nem os Diesel se safam! E acabou-se a parte de assuntos sérios... já agora, leiam o artigo do Sr. Araújo Pereira que anda por aí a circular na rede sobre isto... muito bom :D
A minha gata Nina, que já sofreu um acidente de viação, no qual perdeu muitas das capacidades da sua pata direita traseira, que ficou com as cordas vocais mais agressivas de todo o sempre (para mim ficou foi meia surda e portanto, tonta, n tem a noção da barulheira insuportável que faz...), e que não vê nada do olho esquerdo... vai ter que amputar as orelhas! Como é branca, o sol não lhe perdoou e deu-lhe dois tumorzinhos... pobre coitada!
E temina também aqui a parte sentimental do blog, para n destoar muito dos restantes .... lóóóóóle (não pude evitar, eu na realidade sou um demónio! Avisem a Diana disto, por favor! Ela não quer crer...) Para terminar, tenho que realçar que a autora deste blog é das pessoas mais fabulosas que existem. É uma preciosidade de rapariga!!! Portanto, caros Algarvios e restantes "imigrantes", tratem-na bem senão... digamos que iremos ter "problemas invictos" :) ... lóóóóóóóle Como reparam, este post continua a ser muito pouco produtivo e inteligível... desculpa Diana! :)
O meu sobrinho continua cada vez a crescer mais... agora ja domina muito bem a tecnica do estaladão de mão sapuda... hoje acordou-me assim... já me ferrou a penca (eu aí desculpo-o, porque acho que ele tava tentar dar um jeito naquela mer**), ja me mandou com o comando da televisão na testa... muito criativo! Tb já sabe que quando lhe ralho, o ideal e baixar um pouco a cabeça, e levantar-se já com um sorriso a la Joker, e dar uma gargalhada curta mas muito bem estruturada!!!!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Love is in the air

Tinha uma cara séria. Parecia que a vida lhe tinha batido. Chegou triste e calada e respondia-me a quase todas as perguntas sem se expressar. Olhos caídos, olhos fixos no chão. Quando brincava com ela, dizendo coisas parvas que me vou lembrando ao longo dos turnos, não achava muita piada e eu engolia o que dizia, pedia desculpas e desaparecia por uns tempos. Voltava de mansinho, esperando que o olhar de fera tivesse desaparecido.
Há uns dias encontrei-a estranhamente a sorrir. A sorrir e a voar, porque estava sem sombra de dúvida longe… muito longe daquele quarto de hospital. Deitada na cama, olhar pela janela com um sorriso de quem está apaixonada. Meti-me com ela…
Está a ver passarinhos S.?
Riu-se muito (eu estranhei ainda mais). Já sabia de um suposto romance entre ela e o J. Ele compra-lhe gelados e gosta de lhe dar a mão quando está perto. Sempre que pode, pega na sua canadiana e percorre todo o corredor, a um passo apressado para chegar até ela. Ficam a conversar no quarto, entro de mansinho e meto-me com os dois. Tenho que cumprir o meu dever alertando-os para os limites de um suposto romance, mas pisco-lhes o olho à saída, como se pudesse ser um pouco cúmplice.
Ela gosta. E quando pode chama-me para falar. Precisa de partilhar com alguém, e eu gosto de a ouvir. A incrível transformação de uma mulher magoada, ressentida, para uma que se apaixona. Disse-me que estar apaixonada é muito bom. Que até dorme melhor. Eu, metida como sou, preguei-lhe logo a história do balão. Da forma como ele enche quando deixamos a felicidade entrar. De como estava feliz de a ver assim. De como se reconhecia na cara dela um sentimento bom.
Ela continuou a sorrir.
Fiquei sentada a ouvi-la todo o tempo que pude. Mas vi-o espreitar na porta.
Pensei: eu tenho que a manter a ordem. Não posso deixa-lo entrar no quarto dela à noite. E tenho de ficar de vigia. Tenho de fazer cumprir as regras. Tenho de explicar-lhes isso. Tenho de o encaminhar até o quarto dele, seriamente dizer-lhe que não volte a deslocar-se ao quarto da S. Tenho que fazer isso tudo e dizer isso tudo. E fiz e disse. (baixinho e com excepções, e dando-lhe 2 minutos).
E no fim, quando a apanhei novamente a sonhar acordada e a gargalhar por lhe perguntar a cor das borboletas, ela agradece-me muito. E eu agradeço também.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Verano



Uma das melhores recompensas de se trabalhar no Algarve é viver o Verão intensamente. Conseguir ir à praia quase todos os dias, banhos de mar de 20 minutos, nadar e flutuar nas ondas. O Verão chegou em força e isso deixa-me muito feliz.
Hoje, numa das raras vezes que o nosso horário o permitiu, os três enfermeiros nortenhos cá de casa, foram à praia juntos. Dia 26 é sempre um dia a comemorar;)

terça-feira, 24 de junho de 2008

Não é sonolência, é sono.

As noites no hospital custam muito a passar. Custam aos doentes e custam a quem tem que se manter alerta. No início de um turno da noite nunca sabemos o que nos espera mas a frase desejando uma noite calma nunca é dita. (dizem que dá azar;))
Silêncio interrompido. Campainha que toca. A luz acende. A Diana lá vai. Vou devagarinho… só espero que não acorde mais ninguém. Costumo dizer que uma campainha nunca toca só. E não toca. Lamento não ser a mesma às 5h da manhã. Não ter a mesma capacidade para ser compreensiva. Às vezes sei que não me rio, sei que não falo muito, nem ouço muito, só incentivo o sono, o descanso e faço o que é necessário. Há dias em que tudo o que está na minha cabeça é que o turno passe e as 9 horas da manhã cheguem depressa. Há dias em que sou mais a Diana e menos a enfermeira. Hoje já fiz manhã e a noite de trabalho pela frente diz-me que o melhor será dormir agora. Agora enquanto há silêncio porque trabalho por estas bandas não tem faltado ultimamente.
Durante a noite no hospital muitos velhinhos desorientam e alucinam. Alguns pedem-me bacalhau, outros vêem pessoas que voam à volta deles, bolas gigantes e objectos estranhos. Chamam por ajuda. A campainha toca, a luz acende. Lá vai a Diana. Penso em ser mais enfermeira e menos Diana. Ouço as histórias mais estranhas. Rio-me baixinho e digo que vai passar. Às vezes ando à procura dos pseudo fantasmas só para garantir que não estão escondidos em lado nenhum. Vá pode dormir descansado. Se a bruxa na vassoura andar por aí… agora vai comigo. E chamo por ela e vamos embora as duas. Há os que acreditam que convenço qualquer bruxa a acompanhar-me, mas há uns que ainda vou no fundo do corredor e já tocaram outra vez. Porque eu levei a bruxa, mas o seu gato não se cala. O gato! Como me esqueci do gato…

Gerir tudo não é fácil quando o nosso corpo e nossa cabeça nos pedem descanso. E quando os companheiros de quarto dos doentes que desorientam nos pedem sossego. Acho que os enfermeiros precisam de uma luz divina. De um poder. De serem mais enfermeiros e menos pessoas. De estarem sempre disponíveis. De saberem colocar-se no lugar do outro. Deste que está à nossa frente. De não nos irritarmos. De não perdermos a cabeça. Mas os enfermeiros não são só enfermeiros. E a maior batalha entre mim e a minha profissão tem sido travada contra um inimigo difícil. O sono.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Deixa-me rir

Rio-me dos cautelosos e dos prudentes. Rio-me de mim própria. Rio-me dos medos de ontem. Dos que não consigo evitar hoje. Rio-me quando chega ao momento em que o medo de ontem controla o meu dia de hoje. Rio-me no exacto momento em que ele chega. Rio-me dele e para ele. E pergunto. Era disto que tinha medo?
E rio – me ainda mais.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Regresso ao trabalho

- Pensei que nunca mais vinhas
- Eu disse-te que ia de férias S.
- Tive saudades tuas

terça-feira, 10 de junho de 2008

Férias

Toda a gente merece férias. Todos.
Sentir o sol aquecer a pele.
Ir à praia.
Banhos de mar.
Caminhar com roupa fresca ao fim do dia.

Respirar devagarinho e sem pressa. Todos merecemos

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Finalmente eu e a croma matamos saudades:)

Nat, amor da minha vida que pequenino fica o meu coração sem ti**

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Agora agora

Eu passo a vida a cantar. Canto todas as músicas que me lembro e não preciso de saber as letras. Invento-as e digo grandes barbaridades desde que rime. Canto em todo o lado. Canto quando acordo bem disposta, quando tomo banho quando conduzo e quando ouço uma música de que gosto esteja onde estiver.
Hoje a minha mãe mandou-me calar, farta de me ouvir cantar a minha música popular favorita:
Oh linda eu vou-me embora. Oh linda agora agora… (repito mil vezes, descanso e volto à carga).
Faço-me de amuada.
- Os meus doentes gostam. Nunca me mandam calar. Canto no refeitório durante as refeições, canto enquanto lhes dou banho, canto para embalar os que precisam. E a D. A. já me disse que se não fosse enfermeira podia ser cantora.
- Não achas que podes incomodar as pessoas?
- Não.

30 maio - 18h06

O meu corpo dá-me sinais de exaustão e eu mando-o calar lembrando-o de que entro de férias hoje. Tens ainda tanto para fazer, mala, arrumar quarto, decidir horário de alfa, arranjar alguém quem te vá buscar ao Porto. Ganhar coragem para as horas enfiadas no comboio, decidir o que vou ler. Viver a crise do toma não toma qualquer coisa e vais mas é a dormir. Não. Não tomo.
Amanhã acordarei, farei a mala e rumo ao norte. Cheia de saudades de todos. Mal posso esperar para ter os meus piolhinhos todos nos braços e sentir o cheirinho das crianças. Mal posso esperar para ver a Mel aos pulos frenéticos de volta de mim. Isto se ela me perdoar a ultima ausência de quase dois meses.
Amanhã:)))))))

segunda-feira, 26 de maio de 2008

A lua partida ao meio

Olha a lua partida ao meio
de tão baixinha que está
quase leva as copas das árvores
e o cabelo dos homens altos

se eu fosse muito guloso
comia esta lua em forma de queijo

olha a nuvem, a nuvem branca
quer tapar o nosso queijo
nuvem gorda e sem vergonha
invejosa da luz da lua.

tu ja viu que esta noite não tem vento?

olha a lua partida ao meio
se eu pudesse sentava nela
e ficava espiando a terra
e me via olhando ela!
Para ti*
Maria João e Mário Laginha

domingo, 25 de maio de 2008

podia perfeitamente não ter escrito isto

Pus-me a pensar em como é giro deduzir como coisas fundamentais hoje eu nem sabia que existiam antes. É bom poder concluir por o viver na minha pele, que a vida pode mesmo mudar, tomar outro rumo e tornar-se melhor por isso. A nossa casa hoje, o cheiro da vila onde vivo hoje, o meu trabalho de hoje as pessoas… as que surgem e com quem agora vivo o meu dia. Onde estariam elas há um ano atrás? E as que estavam comigo há um ano atrás no Brasil? Onde estão agora?
As que vão e vem. As que vem e ficam. As de sempre. As pessoas vão passando pela minha vida e qual será o critério para que permaneçam? Quais os exactos momentos, se é que existem, que fazem com que alguém que se atravesse no meu caminho acabe por nele seguir comigo?
Também são importantes simples cruzamentos. E não é necessário um caminho, basta uma intercepção.
Só me apetece pensar e não me apetece responder. Talvez eu não saiba a resposta.
Ou melhor, não sei.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Para ser grande, sê inteiro
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive

Ricardo Reis

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Passo a passo, devagarinho mas bem.

Eu gosto de passos pequenos para alcançar metas. Mas isto vai completamente contra a minha falta de paciência para esperar seja pelo que for. Por isso hoje perdida entre pensamentos após a sesta, cheguei a outra conclusão magnífica: A vida gratificou-me mesmo muito quando me permitiu trabalhar em reabilitação.
Há uns dias recebemos um menino de olhos gigantes azuis. Está preso no seu corpo. Desde Sábado que já dirige o olhar quando chamo por ele. Hoje juntei a minha mão à sua e depois de tantos dias de insistência chegou finalmente o momento da resposta, do ganho e de mais um passo gigante para quem acredita que este menino um dia se libertará de si mesmo.
-Aperta a minha mão...anda lá. Tu tens força e eu já estou a sentir. Anda láaaaaaa!!!!!
:)

terça-feira, 13 de maio de 2008

Mãe Zé

Hoje a mãe Zé faz anos:) e eu so lhe consigo enviar muito amor. Imagino que de dentro do meu peito saem corações pequeninos e vermelhos. Voam e caem em cima da mãe Zé em forma de pó mágico, e vejo e sinto o sorriso dela.

Vai uma água de côco?

Tenho tido algum tempo livre. Tempo que me tem feito parar na saudade e recordação. Não gosto de falar muito do passado, mas gosto de me lembrar dos cheiros e sabores como forma de reviver. Ao rever esta foto lembrei-me do sabor da água de côco que comprava a saída do museu de Ipiranga. Suave e fresca.
“Beba água de côco minina…faz bem pra pele”
Como me apetecia uma agora:)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Descobrimentos, um ano depois.


Há um ano atrás parti para o Brasil. A esta hora estava dopada num avião, com o coração apertado e ansioso, sem saber muito bem o que me esperava. Um oceano me separaria da minha vida até então e isso era uma ideia que me agradava muito.
No Brasil à chegada não encontrei calor nem sol. Chovia muito, S. Paulo era muito cinzento tudo era longe de tudo e o trânsito caótico. O que esta experiência modificou em mim traduz-se numa visão só: o Brasil deu-me luz e transformou-me numa pessoa melhor. O quentinho fui encontrando nas pessoas, cuja humanidade e carinho para com todos é algo que nunca tinha visto. No Brasil perdi a conta dos abraços diários. Apertadinhos, sentidos numa troca de energias corpo a corpo. Encontrei miséria extrema em favelas onde trabalhei e encontrei nas pessoas miseráveis sorrisos que me marcaram para a vida. Peguei nas crianças abandonadas ao colo enchia-as de beijos, chorei quando me chamavam querendo mais. No Brasil dancei Forró. Com dois passinhos para lá dois para cá. A música entra no corpo e só se pára com a madruga. Fiz amigos que não esqueço. Pessoas que me acolheram desde o primeiro instante me deram a mão e me mostraram como se pode ser feliz com tão pouco.
Nunca senti medo. Saía de casa sem nada e bom mesmo era quando havia sol… havaiana no pé é alegria.
Quando o balão cresceu pela primeira vez! Lembro-me perfeitamente. Estava num centro de saúde muito pobre. Pessoas nos corredores. Velhinhos, crianças mães. Olhei para as paredes despidas do tempo. E o balão dentro de mim começou a agigantar. Lembro me de pensar: o que sinto agora é felicidade pura. Encontrei o meu caminho, o terreno onde sinto que todo o amor que tenho para dar é tão bem recebido e necessário. Imaginei – me com a Nat a pintar paredes do centro de saúde, a deixá-lo mais bonito. Imaginei que nunca mais sairia dali, que me empenharia nesta missão pessoal de tentar deixar o mundo melhor do que o encontro. Não sei exactamente como me libertei da pessoa que era até então. Não que me sentisse mal comigo própria mas porque havia tanto por limar em mim.
Um dia tive que partir. Despedi-me de todos com a alegria de sempre. Promessas feitas de um reencontro quando a vida o permitisse. “ O qui importa mesmo Dgi é sê Féliz!" É:) O que importa mesmo mesmo é um dia ter tido esta oportunidade tão maravilhosa. Que me abençoou tanto e pela qual agradeço muito.
Sim, os descobrimentos de 1500 foram outros. E os meus são meus para sempre.
Aos meus queridos amigos Lê, Leo e Camila, com muito amor.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Sagrado

Na minha terra canta-se ao desafio.
“ Sou do Minho! Sou do Minho! de Viana natural quem não conhece Viana não conhece Portugal!”
A lista dos cantinhos portugueses a conhecer, para se dar o real valor ao nosso país, cresceu muito ultimamente:) Quem não conhece Sagres também não conhece Portugal. Eu nunca tinha visto o atlântico tão imenso como ontem. Nem uma névoa tão sinistra a cobrir o mar, a esconder o horizonte. E o vento também nunca me tinha cantado assim.
Cada passo uma descoberta:)
O cenário é de filme. Não seria nunca capaz de o descrever justamente. Posso tentar dizendo que conseguimos entrar mar adentro. A falésia é escarpada (e assustadora para quem tem pavor de alturas), o ar é húmido mas a paisagem é sagradamente inesquecível. Trouxe a imagem do pôr-do-sol gravada nos meus olhos, prometendo não esquecer.
Sou do Minho mas Algarvia me torno.. .cada vez mais:)

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Noites seguidas.

A viver ao contrário, é assim que me sinto. Trabalhar rir e comer à noite. Dormir até ao sol já estar posto. Com tantas noites seguidas tenho descoberto algumas características minhas. Descoberto como quem diz, porque já as conheço há muito tempo, mas durante a noite estão aumentadas. Há doentes que me reconhecem antes de abrirem os olhos quando vou ao encontro deles durante a noite. Reconhecem-me o toque. Tenho sempre as mãos frias, geladas. E apesar de ser noite dizem-me sempre qualquer coisa. Alguns trazem carinho na voz mas outros ficam realmente aborrecidos e fazem questão de dize-lo. Como os compreendo! Não há coisa que tolere menos do que o frio. Não suporto simplesmente. Estar a dormir descansadamente e receber, mesmo que ao de leve um toque gelado de alguém que nos quer ajudar a mudar de posição (como se já não bastasse ter de acordar, ser destapado, sentir algumas dores ao ser mobilizado, e ter de voltar a adormecer) não deve ser fácil de tolerar. Por isso peço desculpa. Não tento remediar a situação. Passo a vida com as mãos debaixo de água e sabão por isso, mesmo que as mantenha activas nunca estão quentes. Peço desculpa e tento não falar muito. Ser rápida, eficaz e continuar.
Ontem terminei a ronda das 4h na D. A. Uma senhora de 70 e alguns anos de quem gosto muito. Sempre que acorda fala como se nunca tivesse estado a dormir. Tem sempre coisas a dizer e embora chore muito por saudades do seu marido, a nós trata-nos sempre com muito amor e agradecimento.
- oh meu amor meu amor. Quem és tu? A minha cabeça a minha cabeça. Não me lembro dos nomes, já não me lembro dos nomes. A minha memória. Tenho saudades do meu marido, queria o meu marido. Já fiz na cama? Que horas são? Ai a minha cabeça, que não se lembra de nada.
Pára quando sente que a toco.
-Que mãos frias! Ai que mãos frias!
Desculpe D. A, tenho sempre as mãos frias não é? Vamos lá tratar disto rápido para dormir depressa.
- Não faz mal. Eu também tenho as mãos frias. Quando tiveres a minha idade e for eu a tratar de ti também as vais sentir e não vais ficar zangada. Pois não?
Prometo que não:)

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Farol

Há dias que surgem especiais e sabem ainda melhor por não terem sido planeados mas terem surgido, simplesmente. O contacto directo com a natureza e a sua grandiosidade em pleno equilíbrio fazem-me sentir completamente inserida neste mundo, acolhida, se calhar é melhor:)
Um farol é uma luz, um guia uma forma de encontrar um caminho seguro. A ilha é linda, e a viagem parece um sonho, adoro sentir o vento na cara e ouvir o barco, o ondular nas águas o sol forte na cara, a paz. Aproveito estes dias para apreciar as coisas simples. O natural, os sons e os cheiros que me fazem nunca esquecer.
Tenho pena de não ter imagens para mostrar. Mas imaginem um areal dourado, um mar calmo e cristalino, conchinhas, passarinhos, cheiro intenso a mar e o sol grande num imenso céu azul. A praia quase deserta e um dia pela frente. No meio um farol. Quem lá vai não volta igual mas isto sou eu que o digo.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Previsões

Eu não gostaria de ser vidente. Saber o dia de amanhã ou que me reserva o próximo mês. Recebi o meu horário de Maio hoje e descobri que nenhum dos meus planos parece à partida realizável. Penso que ainda bem que não tenho poderes, ou pelo menos não os que prevêem o futuro, porque assim posso continuar na esperança de que por milagre os meus planos se tornem possíveis. Hoje foi um dia de reflexão e nem o sol lá fora me fez ter vontade de fazer nada. A folga hoje vivi-a entre as obrigações e o pijama. O sofá foi meu aliado e a fruta fresca e da época (a que mais gosto) estiveram comigo a dar-me conselhos. Acredito na força do pensamento. Tentei apagar da minha mente o que não me traz nada de bom. Imaginei todos felizes e realizados. Dei abraços imaginários a todos os que amo, aos de perto e aos de longe. Também dei alguns abraços aos que gosto menos, desejando aprender a não guardar imagens negativas de ninguém. Leio a sina na minha mão e vejo um longo caminho para aprender a pensar assim todos os dias.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Folga





Os dias de folga sabem a serenidade. Fui percorrer a calçada romana e é um passeio agradável de se fazer. Depois de tanto trabalho sabe bem andar sem pensar em nada. Cruzei-me com um Sr. Velhinho no caminho, que me cumprimenta tipicamente à algarvia, Hello! Não sou loira, nem alta nem pálida mas confunde-me com uma inglesa. Fica parado a olhar, digo-lhe boa tarde a sorrir e continuo.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Melhor do que uma louca, duas.

Por vezes quando estou a trabalhar há uma voz que vem até mim, com tom sério e diz:
- Diana, pensei que mais fácil contigo longe. Mas afinal dói muito mais a tua ausência do que a indiferença da tua presença por isso peço-te, volta.
Vivo com um ser humano louco em casa e partilho o local de trabalho com ela. A Rita não é uma pessoa normal. E não tenho qualquer problema em dizer isto. A Rita é muito bem disposta, optimista com uma auto-estima recomendável.
A Rita faz me rir e divertimo-nos muito as duas. Hoje chamou-me cotchina (além de muitas outras). Riu-se de um suposto laço vermelho que afirma ver na minha cabeça, fala pelos cotovelos e quando se zanga diz e pronto. A Rita é fofa e eu gosto dela.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Sul, outra vez.

Estou de regresso. Retomo o trabalho amanhã, senti saudades. É tão bom fazer-se aquilo que se gosta. Acordar e ir trabalhar no que mais prazer nos dá. Nas muitas horas que passei em viagem entre o norte e o sul pensei em mil e umas coisas. Muitas delas não interessa, algumas nem me lembro, outras de tão ridículas sinto vergonha de contar. Por momentos pensei em todos os empregos que já tive e como até hoje não arranjo explicação para ter suportado alguns. Nunca fui despedida, mas engoli muitos sapos. Pergunto-me por que terei suportado trabalhar numa loja prestigiada ao lado de uma das pessoas mais horríveis que conheci até hoje. Só me serve de consolo o facto de essa experiência me ter ajudado a perceber quão boa pessoa me considero perto de alguns seres humanos. Era criticada exactamente por isso. Por ser demasiado doce e não tratar friamente as "minhas" funcionárias. Sinto repugnância por quem se julga, seja porque motivo for, mais do alguém. Depois lembrei-me do primeiro emprego de todos. Trabalhei numa fábrica de chocolates. Só no mês do natal ainda andava no 12º ano. Embrulhava bombons 8 horas por dia. Quando saía à meia noite toda eu cheirava a chocolate. Depois pensei outra vez. Como é bom nunca me ter enganado naquilo que queria mesmo ser. Desde que entrei para a faculdade que nunca senti dúvidas. E hoje depois de tanto esforço a felicidade é ainda maior.
De regresso ao sul e de regresso ao trabalho. Agradeço muito*
Porque para mim a semana começa amanhã, boa semana para todos;)

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Coisas boas em viana

A família
Os amigos
A Mel
Sentir o cheirinho dos que mais amo
Jantar de manocas com broa de avintes, azeitonas, salada e morangos (Bábá e Raqui.. sinto a vossa falta.. )
O jardim em frente a casa
Os abraços
O café no Gonçalinho
As bolas de Berlim do Natário
O pão

Saber que o meu lugar lá na outra ponta me espera e eu volto em dias.

Sinto-me Feliz todos os dias.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Doce Doce como a Mel



Houve uma altura na minha vida que me senti mal muito tempo. Acompanhei o sofrimento de pessoas muito próximas e senti-me uma pessoa muito triste, impotente e sem força. Decidi arranjar um cão. E foi das melhores coisas que fiz na vida. Adoptei a Mel uma cadela que tinha sido abandonada pela mãe e vivia no hospital veterinário do Porto. A Mel é quase humana. Sente por mim um amor infinito. Quando eu estou não existe mais nada nem mais ninguém. É amor:) Sei que tem sofrido com a minha ausência. E só de pensar que daqui a dias a tenho no meu colinho a ganir de felicidade me enche o coração.
Estou quase a chegar Melzita. Quase quase.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Velhinha Vaidosa.

A D. O é uma velhinha vaidosa. Está no centro desde que eu lá cheguei. Gosta de receber festinhas dos outros doentes. Quando lhe digo que é a mais bonita porque tem madeixas cor de mel nos seus cabelinhos de avó, concorda sempre comigo. E ri-se. Gosta de companhia e de ser paparicada. Gosta de comer e tem muita pena quando perde o apetite. Gosta que eu a acorde às 6h da manhã para ser a primeira a tomar banho.
Despede-se todos os dias de mim dizendo: Obrigada minha querida. Obrigada.
A D. O vai partir. E eu já sinto a falta dela.


cilu cilu onde andas tu?
Penso em ti todos os dias. Sentes?
:)

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Primeira Visita


Da esquerda para a direita: Pedro, Vitó e Correia.



O meu querido amigo Pedro veio visitar-nos ao Algarve. O tempo ajudou. Foi recebido por mim, pelo Vitó e pelo Correia, todos enfermeiros do norte que trabalham no sul. Somos todos amigos de curso.
Dois dias bem passados. Muito bem até:)
Encontro em S. Brás de Alportel, passeio em Tavira, noite em Faro. Foi tão bom não foi?
Quem tem amigos tem tudo. E eu tenho tantos.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

venho a estas horas só para agradecer.

Emocionei-me muito. Senti-me tao abençoada pelo vosso carinho.
Obrigada a todos!
Sinto o vosso amor.
Aquece o meu coração.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Eu hoje.

Bom dia Sr. J.
- Eu hoje.
Dormiu bem?
- Eu hoje eu hoje eu hoje.
Este doente lá do centro é um amor. É muito carinhoso e comunicativo. As únicas palavras que utiliza para se expressar verbalmente com o mundo são apenas duas: eu e hoje.
Fala com a mulher ao telemóvel durante muito tempo e eu penso como o amor entre dois seres humanos os torna tão transparentes um para o outro. Conversa sempre muito com ela antes de dormir e eu oiço da sala de enfermagem: eu hoje eu hoje, eu hoje hoje eu hoje, eu hoje eu hoje, eu.. hoje, eu hoje.
Quando ela está lá no serviço falam muito! Ela entende tudo o que ele diz. Observa-o e interpreta-o. Depois traduz-me. :)
Mas ela hoje não estava lá. E a meio da manhã o Sr. J. fugiu do ginásio, devagarinho na sua cadeira de rodas e veio ter comigo ao internamento.
- eu hoje eu hoje eu hoje eu hoje.
Então Sr. J que se passa? Tem sede? Dor?
- eu hoje eu hoje eu hoje eu hoje.
Começo a corar.
Tem que ir pró ginásio são horas de trabalhar, vamos lá eu vou consigo.
Travou a cadeira de rodas e continuou.
- eu hoje eu hoje eu hoje! Eu hoje.
Fez cara triste.
EU HOJE EU HOJE EU HOJE!
Caraças!
(A maioria dos meus doentes tem muitas incapacidades. E esta da fala, ou da falta dela é muito difícil de ser superada. Isto porque a maioria também não consegue escrever, nem coordenar os movimentos da mão de forma a fazer um desenho. É difícil por isso compreende-los, saber exactamente o que precisam. E se no início de um turno fazemos de tudo para ir adivinhando, há alturas em que a quantidade de trabalho e por isso a falta de tempo, não nos deixa muitas alternativas. Aqui cresce uma agonia dentro de mim. Isto porque eu não sei se eles tem noção de que não conseguem verbalizar mais do que uma, duas palavras.)
Assim sendo resolvi deixar o S. J guiar me. E disse-lhe:
Vamos a procura do que lhe faz falta. Pus-lhe a mão no ombro e seguimos caminho os dois rumo ao quarto.
Apontou para a gaveta. Abri. O carregador do telemóvel!
Parece tão fácil não?

sexta-feira, 28 de março de 2008

Quem nasce trenga, trenga permanece.

Quem me conhece sabe que nunca gostei de conduzir. Pois bem, também fui avisada que esta mini fobia seria ultrapassada pela obrigatoriedade de o fazer. Todos os dias, lá vou eu. Se o caminho for o de sempre já vou tranquila, agora se por algum motivo vou à procura do meu destino todos os músculos da minha nuca se prendem:)
Hoje resolvi ir sozinha para Faro.
Enganei-me a por gasóleo. Em vez de” 20 euros” carreguei no “20 litros”. Achei que não foi só distracção minha, é também uma boa forma de enganar os ceguinhos como eu. Mas pronto, paguei e calei.
Perdi-me no caminho. Fiz inversões de marcha em parques de estacionamento. Já em faro senti-me do “faroeste”. Sobe rua e desce rua, quando venho de boleia isto parece tão fácil! Corada suada mas bem disposta, resolvi esquecer o passeio no centro e rumar ao Fórum Algarve.
Estaciono o carro. Fui.
Fiz tudo o que tinha a fazer. A descer as escadas rolantes rumo ao parque de estacionamento já me ria sozinha. É claro, óbvio, que não sei onde deixei o carro.
Vivi 30 segundos de pânico em que me imaginei a regressar para S. Brás de táxi. Mas barata tonta que se digne dá à corda e só pára quando encontra. O que me vale é que tenho tanto de distraída como de teimosa. E normalmente só desisto das coisas quando as encontro.
Agora digo baixinho que amanhã vou outra vez.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Fechar os olhos e imaginar :)

Saio de mais uma noite. Apanho o solzinho da manhã que nasce. Entro no carro. E ponho esta música que dura exactamente o tempo da viagem. Ouço-a alto e voo ainda mais.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Entre nós

Entre o Algarve e o Porto um abraço nos une. Muito amor querido Crista. Estou longe mas estou contigo.

Dormir e muito, por favor.

É delicioso chegar à cama com muito sono e muito cansaço e respirar fundo para um longo sono reparador. Não sei como chamar aquela sensação de se saber que se pode dormir muito quando é o que mais apetece fazer. Prazer, talvez. Mas um prazer imenso!
Foi o que senti ontem. Adormeci às 20h30. Não me lembrava de tal proeza nos últimos 20 anos.
Soube-me tão bem. Acordei recarregada.
Além de muitas outras coisas também adoro dormir. E custa-me trabalhar à noite, desregula-me, faz-me dores de cabeça e borbulhas. Pior ainda… obriga-me a perder manhãs lindas de primavera e deitar-me no escurinho com o sol a brilhar lá fora.
Mesmo assim. Vale tudo a pena. Ah se vale!

sábado, 22 de março de 2008

Bem-Vinda


Adoro a Primavera. Adoro o cheirinho do Algarve.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Descanso

Qual será o limite entre a possibilidade de adaptação a uma situação difícil e a morte? Qual a linha de separação entre a esperança ou a resignação?
Eu sou enfermeira e garanto-vos que a minha pouca experiência já me permite dizer-vos que sou completamente a favor da eutanásia. Basta ter a capacidade de me colocar no lugar de alguns doentes que já passaram por mim. Não falo do velhinho de 87 anos, que apesar de ter dores ainda se ri, ainda conta historias e espera todo o dia pela hora da visita. Nem falo de um jovem de 20 anos que sofreu um acidente ficou paraplégico e tem um longo caminho de recuperação. Para estes estamos cá nós. Para os ajudar, os reinserir na sociedade adaptados à sua nova situação. Eu falo daqueles que só de olharmos para eles o nosso coração fica pequenino. Daqueles que já não há muito a fazer, que ficarão assim, ausentes para sempre.
Ontem cuidei várias horas de um doente. Muitas, muitas horas. Um Sr. Que caiu de uma altura de 6 metros, fez um traumatismo craniano grave e a sua vida mudou para sempre. Gritou horas seguidas. Já não sabia mais o que lhe fazer. É assim todos os dias e todas as noites. Não faz absolutamente nada sozinho, não esboça um sorriso para ninguém e só grita. Tem um olhar ausente e frio. E não há a mínima esperança de recuperação. É ele que é um doente difícil ou serei eu a enfermeira insensível que pensa que o melhor alívio que lhe podia dar era a morte?
Perguntam-me se seria capaz?
Dorme em paz Manjeriquinho. Digo-lhe eu quando lhe administro o sedativo. E depois imagino-o a ganhar asas. A olhar lá de cima para mim e agradecer-me… se dependesse de mim eu ajudá-lo-ia a dormir em paz por muito muito mais tempo.

sábado, 15 de março de 2008

Agradecer

Sempre que passo por momentos difíceis na minha vida penso que vou ser recompensada um dia. Nunca perco a esperança, e mesmo que me esteja nos genes ser dramática nunca duvido da justiça da vida.
A felicidade, o balão tão cheio dentro de mim. Sentir que voo e que as minhas asas me levam onde eu quiser.
Agradeço à vida.
Agradeço a todos os amor que me enviam. Garanto-vos que o sinto chegar até mim a todos os minutos.
Sou feliz:)

quinta-feira, 13 de março de 2008

Segredo

Se puder comparar a saudade a um bichinho que rói, então já tenho um buraquinho no meu coração.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Confusões

Ouve-se no corredor do hospital
"Diana, onde estás?"
Responde o Sr. M. do refeitório.

"Está-me pondo sal nos tomates!"

:)

terça-feira, 11 de março de 2008

Espertices

Trazer de Viana a TV e esquecer o comando.
Ligá-la com fé e achar que tá feito.
Carregar no 1, no 2, 3 e 4
Não funciona.
Ir à loja dos chineses e acreditar que com 4 euros resolvo o problema.
Ir trocar o comando por lápis rascas para pintar os olhos
Ir a uma loja de electrodomésticos pagar 25 euros por um comando universal programado.
Não funciona.
Ir devolver o comando, desta vez com direito a devolução do dinheiro.
Ter comprado uma TV que já não se fabrica e na qual nenhum comando universal funciona.
Adormecer. Acordar por volta da 1h. Estar indecisa entre sonho ou realidade. Mas parece mesmo o som da minha T.V.
Levantar-me.
VITOR COMO É QUE PUSESTE A TELEVISÃO A FUNCIONAR?
“Encontrei os canais sintonizados nos 31, 32 e 34”.
O pensamento do Vítor tem mais força do que o meu.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Branco

Um homem grande e forte. Aparecência cuidada. Geme de dor. Não se mexe, não fala. Não consegue dizer o que tem, onde doi. Grita como pode. Uma voz presa, desesperante. Um olhar sofrido, suor, respiração e batimentos cardíacos acelarados. Pede ajuda com o que resta, grita, chora como pode. Não se sente. Não tem família, não tem um amigo. Não tem roupa, não tem meias, não tem sapatos. Não tem um número de telefone. Não tem telefone.
Uma pessoa de branco vai para perto dele. Põe-lhe a mão no peito e pensa que é mágica. Que qualquer coisa vai percorrer a sua mão e vai chegar até ele.
Não resulta.
Estou aqui diz baixinho. Vai passar diz baixinho. Vou ajudá-lo diz baixinho. Vou dar-lhe água diz baixinho. Não vou sair daqui diz baixinho. Vou dar-lhe medicação diz baixinho. Vou virá-lo diz baixinho.
Adormece.

domingo, 9 de março de 2008

A primeira noite.

Fui contratada para subtituir a enfermeira Celina. Uma menina amorosa minhota pois claro. Gostei dela mal a vi, recebeu-me de braços abertos e foi uma grande ajuda nesta primeira semana. Fiquei com o emprego dela, o quarto dela. Em troca dei-lhe um lugar no meu coração.
Ontem fomos para Faro. Dia da mulher, noite da Celina. Muita dança (que saudades!), muito riso, algum choro, uns copos a mais, muita alegria e uma conta grande de táxi para pagar.
Valeu a pena:) Voa Celina... o mundo é grande!

Hoje é também a primeira noite de trabalho. Ontem só saí para ganhar ritmo. Assim vou com os sonos em dia:D

sábado, 8 de março de 2008

Entre nós.

Hoje de manhã fui dar mais uma voltinha pela Vila. Pelo meu caminho encontrei uma daquelas lojas de fotografias que expõem as suas belas obras de pura parolice. Na montra estava um quadro como sugestão para o dia do pai. A foto de uma criancinha com uma grande frase em cima onde se lia:

"Amigo é aquele que diz vai em frente. Pai é aquele que diz eu vou contigo"

Nat, obrigada por seres meu pai:)

Até amanhã*

Dá gosto

Todos os dias volto feliz e aliviada para casa. Cada utente teve direito ao melhor cuidado a toda a atenção e aos melhores recursos. Não trago comigo aquela sensação de antes, de que devia ter feito melhor mas não tinha como. Aqui tudo está ao meu alcance para proporcionar qualidade e dignidade pelo Ser Humano em toda a sua condição.
Sinto me abençoada.

Hoje o Sr. Guerra que insiste em dizer que só é da paz disse-me:

"- oh enfermeraa Diana a Sra. tê cara de santa"
"- Santa eu sr. Guerra?"
"- Atão na tê? os santos lá da paróquia nao me servem de nada e a "enfermêra" vem sempre a rir-se pra mi, só de a ver chegar já me sinto logo melhor"

O meu balão enche e voo... :)

Fazer bem feito não exige apenas vontade. Muitas vezes não é possível aos enfermeiros fazerem melhor. Ou porque não tem tempo, ou porque não tem material e são obrigados a desenrascarem-se como podem. Os doentes ressentem-se e nós vamos para casa frustrados.
Hoje, apesar de ser já noite serrada e ainda não estar muito habituada ao carro e ao caminho, voltei livre. Livre e feliz.
Dá gosto:)

quinta-feira, 6 de março de 2008

Quando a distância é grande não há santo que desconfie

:)

Este blog nasce de uma promessa. No dia em que arranjasse emprego como Enfermeira criaria o meu primeiro blog para contar a felicidade que sinto na minha profissão.
Fiz birra durante o tempo de desempregada, sete desesperantes meses.
Desde o dia 29 de fevereiro ( só o posso festejar daqui a 4 anos:D) que o balão voltou a encher dentro de mim. Parti de Viana do Castelo rumo a S. Brás de Alportel, do outro lado do país.
E a minha vida mudou.
 
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