quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Frio em Agosto

O F. disse me que tinha muito frio. Que já batia os dentes e queria ir para cama e ficar todo tapadinho
Estou gelado por dentro. Sinto o meu corpo congelado por dentro. Enquanto tremia e batia o dente.
Expliquei-lhe porquê. O que mudou no seu corpo para que agora não seja tão fácil manter-lhe a temperatura ideal. Porque é que o ar condicionado a uns refresca e a ele o estava a congelar.
Deitei-o na cama. Posicionei-o até que se sentisse bem. Tapei-o tapadinho com lençol, colcha e afagos. E meti-lhe um caramelo na boca.
Pensei como é pequenino este menino. Como é transparente no terror que sente, como ainda fica mais pequenino tapadinho até ao pescoço com os olhos castanhos e pestanudos a sobressair na cama branca. Falamos de caramelos de fruta, das derrotas do Sporting, do hipotálamo e da medula com a mesma calma e descontracção.
Fui aconchegando a roupa da cama e passando a minha mão pelos seus braços e pernas para que o frio passasse. Vai passar digo-lhe. E ficas comigo até que passe? Fico.
Quando avaliei a temperatura pela última vez a hipotermia tinha passado e o F. dormia. Ia a sair do quarto quando os outros dois doentes que o partilham com ele me perguntam a sussurrar

O F. adormeceu Diana? Ele está bem?
Sim. Vamos deixá-lo dormir.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Havemos de ir a Viana

Entre sombras misteriosas
em rompendo ao longe estrelas
trocaremos nossas rosas
para depois esquecê-las.

Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.

Partamos de flor ao peito
que o amor é como o vento
quem pára perde-lhe o jeito
e morre a todo o momento.

Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.

Ciganos, verdes ciganos
deixai-me com esta crença
os pecados têm vinte anos
os remorços têm oitenta.


Pedro Homem de Melo


Tenho saudades de viana e de a ver romper na ponte. Tenho saudades da minha terra.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

F.

Diana para onde achas que vão as pessoas quando morrem?
Não sei. Mas acredito que morrem em paz. Porque me perguntas isso?
Porque eu não sei porque não morri no acidente. Nem sei o que é que devo fazer no mundo agora que estou assim. Será que se tivesse morrido… será que sentiria o meu corpo lá para onde se vai? Ainda penso que é um pesadelo. Isto. Não sentir o meu corpo.
 
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