sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Dois dias de molho

- Tia se tiveres gripe A vens na mesma nas férias do natal?
- Claro. Pomos máscaras e luvas e tudo e tudo. Vou a qualquer preço.

Eu tenho alma de enfermeira não há dúvidas disso. Acho sempre que se cuidarmos dos outros porque precisam e o fizermos de alma cheia não há vírus que nos contamine. Sou uma poética. Talvez até uma ridícula poética. Mas a vida tem muito mais graça se for encarada com leveza e sem grandes dramas.
A gripe A é apenas uma gripe. Apesar de ter convivido sem problemas com a minha colega de casa e ter cuidado sem qualquer tipo de temor de um doente contaminado o meu teste deu negativo. Ainda bem. Assim começo a imaginar os beijos intermináveis que darei à minha família e amigos que não vejo desde Setembro e de quem tenho tantas saudades. Caso contrario haveria encontro e sorrisos e tal mas não brincaria com a sorte. Porque o amor pode até ser tolerante mas não permite idiotices.
Está quase:)

PS – meu querido amigo Sérginho obrigada por teres cuidado de mim durante a quarentena devido à minha pseudo gripe A. E me teres aturado mais de 24h seguidas com variações de humor (se bem que dormi mais de 23h) e além disso sobrevivemos a um terramoto juntos. Avaliei a temperatura mais de 5000 mil vezes e se esperas que diga que foste compreensivo enganas-te.
E já agora será que sobreviveremos ao ketchup de Setembro de 2009?

sábado, 12 de dezembro de 2009

Podia ser verão o ano todo.
E haver banhos de mar todos os dias.
Foto by Nat

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

D.

A primeira vez que vi a D. ela estava deitada numa maca, depois de não ter sido aceite na consulta para o internamento. Não falava quase nada e o que dizia era imperceptível. O corpo pesado e flácido. A cara transmitia uma dor imensa, e gemeu muito enquanto lhe mudávamos a fralda.
Meses depois voltou e ficou internada. Lembro-me que ela nos chamava muitas vezes durante a noite e que se queixava muito contorcida de sofrimento enquanto lhe colocávamos a arrastadeira.
Não fazia nada sozinha. Tinha muitas dores nas pernas e nos ombros e mal lhe podíamos tocar. Dizia que o corpo ardia por dentro, e era tão difícil entende-la que já repetia sempre as mesmas frases.
A paralisia dos músculos faciais roubava lhe quase toda a expressão.
Meses e meses se passaram e há uns dias vi a D. a caminhar de andarilho, sozinha. Estava no pátio exterior. Um pezinho de cada vez, linda.
Hoje fui buscá-la ao átrio dos lanches e viemos as duas, a caminhar de mão dada.
Disse-lhe que estava muito feliz e orgulhosa dela. Que era uma felicidade imensa vê-la a caminhar pelo seu próprio pé, erguida outra vez depois de tudo o que passou. Ela respondeu-me que o coração dela nos levaria a todos dentro dele para nunca mais esquecer.
Querida D.
 
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