terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste

A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos

A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"

Sérgio Godinho*

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011


O meu coração voltou de Londres e agora está aqui a brilhar-me na sala. E enquanto olho para ele penso no tempo que já passou, nas velas que já lhe pus dentro para que não parasse de brilhar. Eu quero o meu coração com luz, brilhante, quentinho.
Ao lado dele também já cá está o meu farol. Estamos todos juntos outra vez e acreditamos.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

J.


Tenho pensado na J. porque vim de férias e não sei se a encontro quando regressar. Porque passei vários turnos, vários dias, muitas noites com ela, a calibrar o oxigénio, a pôr-lhe pomada nas nódoas negras das agulhas, e fazer-lhe alongamentos nas pernas todas as vezes que ela me pedia.
Quando lhe contaram que ia morrer a J. não verteu uma lágrima. E disse que ia querer prolongar a vida até mais não poder ser. E por isso iniciou a quimioterapia, pediu plantas floridas para o quarto, espalhou fotografias nas paredes, e coloca no parapeito da janela do quarto, todos os postais maravilhosos que os amigos lhe enviam das mais diferentes terras no mundo, cheios de mensagens de amor e esperança, que ela relê com orgulho muitas vezes. Não sei se a J. não quer desistir ou se, por outro lado, está preparada e sem medos para partir. É incrível como ela suporta a dor e o mal-estar intacta e serena. Não gosta que ninguém faça nada por ela, ou a tratem como diminuída, por isso caminha todos os dias pelo corredor com a garrafa de oxigénio na mão, deixou de fumar, ainda lê todos os jornais, e finge não perceber as lágrimas escondidas que a família vai deixando cair quando a visita. Quase todos os dias elogia a comida do hospital, nos agradece os cuidados, nos motiva, nos fala das coisas boas da vida dela e, mesmo quando lhe falho a veia já demasiado fina, diz me que faço tudo muito bem.
Sei que mesmo que a volte a encontrar ela já não parecerá a mesma. Porque os dias vão levando com eles pedaços dela, e a morte a vai moldando. Vai ganhando sobre o tempo, vai desfigurando. Tanto..

domingo, 4 de dezembro de 2011

domingo, 27 de novembro de 2011

O meu coração*

O meu coração bate-me no peito mas palpita-me na boca. O meu coração sente medos e não tem vergonha em assumi-los. O meu coração é quentinho e nunca se esfriou, apesar de já ter sido muitas vezes posto à prova. O meu coração ainda bate mais forte quando pressente que duvido dele, e quase quer sair-me do peito quando vê que quero ser mais rápida do que o tempo. O meu coração é meu, e ás vezes sou eu quem cuida dele e não ele de mim. Como em dias como o de hoje, em que, por ser domingo eu e ele ficamos trémulos e tristes. E porque Dezembro está a chegar e nem eu nem ele queremos lembrar-nos do que isso ainda representa. Do que isso nos faz lembrar. Porque o meu coração quase parou no dia em que o teu desistiu.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Mulheres inspiradoras

"Cada lua, cada ano,
cada dia, cada vento,
caminha e passa também.
Também todo o sangue chega
ao lugar da sua quietude"


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Impressões Di gitais.

Faz impressão o trabalho que se tem em se ser superficial
Faz-me impressão o baralho o vulgar e o intelectual

Sinto depressão conforme perco tempo essencial
Sofro uma pressão enorme para gostar do que é normal

Deixo tudo para mais logo não sou analógico sou criatura digital
Tendo para mais louco não sou patológico sou como o papel vegetal

Faz-me impressão ser seguido imitado por gente banal
Faz-me um favor estou perdido indica-me algo fundamental

Acho que o que gosto em mim o que me cativa é uma preguiça transcendental
E em ti o que me torna afim o que me motiva é esse sorriso vertical como uma impressão digital

Sinto-me uma fotocópia prefiro o original
Edição revista e aumentada cordão umbilical
Exclusivo a morder a página em papel jornal

Faz-me impressão o trabalho a inércia faz-me mal

GNR

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Poeminho Do Contra


Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

Mario Quintana

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Há pessoas que nos bastam para viver. Foi o que senti enquanto estive em Londres. Que sem ti não teria aguentado todos aqueles dias de angustia. E também não teria percebido que por vezes é preciso ficarmos totalmente vazios para podermos encher de novo. A minha irmã é o meu amor. E as saudades que tenho tuas já nem cabem em mim.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Hoje o serviço foi só meu. Nem colegas nem médico nem auxiliar, não se viu ninguém. Hoje fui eu e os doentes, ou melhor eu, Deus e os doentes. Custa-me a crer no estado a que chegaram as coisas, a decadência, a falta de tudo. A exploração a que os enfermeiros estão sujeitos, o que nos exigem a troca de tão pouco. Hoje não aconteceu nenhuma desgraça e é por isso que amanhã ou sempre que for necessário será igual. É triste mas é verdade, meia dúzia de enfermeiros, bem explorados e bem mandados seguram o hospital. E isto não é só triste, é desumano.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

F. senhora professora*

A primeira vez que a F. esteve internada no serviço era um verdadeiro bichinho carpinteiro. Não parava quieta nem se calava por um minuto, uma energia incrível para alguém tão doente quanto ela. Acabou por passar por mais uma cirurgia, vivia o seu terceiro cancro mas ela acreditava que ia ficar bem. Eu adorava falar com ela, uma senhora culta, professora primária, com uma amor por crianças incondicional, e por isso tínhamos sempre pano para mangas nas nossas conversas sem fim.

Ela acabou por ter alta, mas semanas depois voltou a ser internada. A F. vai morrer, percebi mal olhei para ela outra vez. O cancro tem cara, e numa fase terminal tem forma e tem cheiro, e quando a vi chegar ao serviço novamente, percebi que ele tinha ganho a batalha sobre ela.

Hoje a F. já nem comeu, já não fala nada, nem quando lhe peço que complete comigo as preposições… ainda puxo por ela, chamo-a de minha professora, digo-lhe que levantei o dedo e quero falar, começo a dizer-lhe, a, ante, após, até… e a seguir vem qual? Mas ela fica a olhar para mim, com um olhar perdido, e tenta falar mas perde-se, apaga-se e desiste. Faço-lhe sopinhas de leite com pão com manteiga como ela gostava tanto mas ela não quer comer. Ela não quer que lhe toquem, ela não quer tomar banho, ela não quer água.

O senhor doutor, mandou-me entubá-la hoje (era tão bom que ele perdesse algum tempo ao pé dela para perceber como isto é macabro) mas eu orgulhosamente recusei-me a faze-lo. Não o fiz nem farei, nem eu nem nenhum dos meus colegas (e que orgulho senti deles também). A F. não vai sofrer mais, no que depender de mim, vai ficar quentinha na cama, hidratada com soro, limpinha, cheia de amor e festinhas que não lhe cansamos de dar. E a morte há de chegar, e até vai vencer, mas não será com dor, nem sofrimento, nem com falta de mãos dadas à dela.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Pi*

E depois há aqueles amigos que nos conhecem desde sempre, com quem não estamos há demasiado tempo, mas que de repente chegam, falam e dizem tudo. E quase parecem adivinhar o que está para vir de tão certeiras que são as suas palavras*

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

R*

Hoje fui visitá-lo ao hospital onde esta internado desde 1 de Junho. Desde então que o R. vive entre quatro paredes de gente atarefada e sem tempo. Conhecemo-nos há cerca de um ano atrás, quando fui eu quem cuidou dele, ainda a sua doença não tinha avançado tanto. E hoje lá o reencontrei, sorridente e de braços abertos para me abraçar, e os meus também se abriram antes mesmo de lhe chegar perto. Abracei-o com força e por muito tempo e senti-o chorar. E então ficamos assim, eu a dar-lhe colinho. Depois sentei-me ao seu lado, peguei-lhe na mão e pedi-lhe para me contar tudo. Então, ele começou a dizer-me, que ia ficar bom, que ia voltar a estudar, que tinha que ser descoberto que raio de doença é esta que lhe tira as forças, o equilíbrio, lhe rouba os anos de juventude e o obriga a viver prisioneiro num hospital. E ele falou, e sorriu, e senti-lhe os olhos brilharem de esperança. Disse-lhe que tinha orgulho nele. Pensei no ridículo dos meus problemas perante isto, mas pensei mais ainda na felicidade que me trouxe encontrá-lo e dar-lhe amor.

Quando me vinha embora ele gritou e disse:

- Di, ainda vamos passar uns dias todos ao Farol! E vou fazer peixe grelhado e vamos passar o dia todo dentro de água! Não vamos?

E vim embora a pensar nisto. É que o R. dentro de 2 meses vai viver para uma unidade de cuidados continuados, porque os pais não podem cuidar dele, nem a cadeira de rodas passa as barreiras da sua casa. Mas ele acredita, acredita que um dia tudo vai passar e ele vai voltar a ser o que era, e isto para mim chama-se esperança, uma esperança cheia da maior força do mundo, a dele.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Da felicidade


Quando se está feliz as portas fechadas abrem-se, os antipáticos parecem ganhar sorrisos, a falta de estacionamento não nos incomoda, a conta bancária quase a zeros não importa. Quando o coração está cheio, o pensamento fica sem fronteiras cheio de sonhos, desejo e ansiedade.

Quando se está feliz o dia e a noite confundem-se, a fome não chega, não surge impaciência, nem insónias, nem agitações. Os turnos acumulados não trazem cansaço, a saudade não agonia, a praia sabe ainda melhor, a ternura do toque do sol é ainda mais quente. Quando se está feliz, fecha-se os olhos e chega-se perto de todos os que estão longe. E imaginamos o momento do reencontro, vezes sem conta, porque a felicidade é partilhada, é nossa.

Quando se está feliz o tempo não demora a passar e o dia nunca começa cedo demais. Os vizinhos não fazem barulho, a casa nunca se suja, o telefone não demora a tocar, o silêncio é bom conselheiro, e a nossa vida parece ter mesmo sentido.

Quando se está simplesmente feliz.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Pronta.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Pontuação

Não gosto de pontos de exclamação no fim das frases. Parece que me estão a gritar ou a convencer. Mas gosto de pontos finais, de vírgulas, de pensamentos que pareciam terminados mas que um ponto depois começarem de novo a ganhar vida. Nem sei bem como é que nos deixamos moldar assim, como é que deixamos que abalem as nossas convicções na vida, como é que facilmente esquecemos aquilo que já tínhamos aprendido. Como o não vale a pena, o não vale mesmo a pena, fica aqui a bailar na mente como se ela pudesse de alguma forma apenas estar confusa. Queremos sempre uma vírgula quando não se conquistou o que se queria. E continuamos o texto, na busca do final feliz. Mas não vale a pena, não merece o esforço da criatividade, há alturas em que a historia termina, de forma diferente daquela que se tinha imaginado ao inicio, quando tudo ainda fazia sentido e onde se adivinhava um texto rico e feliz. Depois da casmurrice, da insistência, de certa forma até, de se passar por cima do que se acredita e defende, chega a altura de se esgotarem as vírgulas, de se parar de dar uso ás reticências e de se assumir de uma vez por todas que chegou a altura do parágrafo.

sábado, 1 de outubro de 2011

Amor

Eles vieram de férias mas ela caiu à chegada a Portugal, ainda no aeroporto uma queda grande, que lhe provocou uma grave fractura. Velhinhos, holandeses, não falam uma palavra de Português e ele tenta falar um pouco inglês, mas quase nada.

Entraram pelo serviço ás 3 da manhã, ela cheia de dores, ele exausto. Ela falava comigo em agonia, uma língua de trapos. Foi uma comunicação difícil a nossa. Eu explicar-lhe que tinha que despi-la, mexer-lhe, pôr-lhe um soro, algalia-la. Tudo isto por gestos, com sorrisos, com festas na cara como que a dizer-lhe que estava ali e ia ajuda-la, ia cuidar dela. Ele não arredava pé. Sempre por perto, quase que a impedir-me de lhe tocar tamanhas eram as dores que isso lhe provocava. Tentei explicar-lhe, pensei na linguagem universal que nos une enquanto humanos, a única que nos poderia aproximar naquele momento.

Horas de trabalho árduo depois deixei-os no quarto. Disse-lhes que dormissem, que amanhã se resolveria o resto, que no botão vermelho bastava tocar para eu aparecer a qualquer hora.

Quando os voltei a espreitar por volta das 6h, ele estava descalço, de calças de fato e tronco nu ao lado da cama dela. Com a cabeça encostada à dela, como se este toque lhe pudesse dar o colo que ela precisava. E pensei no amor, sempre ele. Como a melhor coisa da vida, no companheirismo, na amizade que cura corações rompidos da pele ao músculo. Pensei que os analgésicos até a tinham aliviado, mas ali ao seu lado ela tinha o melhor curativo do mundo, o amor. Fiquei parada à entrada do quarto, comovida, grata por poder presenciar de perto algo tão inspirador, tirar a minha própria lição daquilo que via.

Quando me aproximei ele continuou ao seu lado. Enquanto inevitavelmente lhe causava algumas dores com a medicação da manhã, continuaram aos beijinhos, ele com o braço enrolado de volta da cabeça dela, curvado na cama, velhinho, cansado, descalço e em tronco nu. Sempre ali, sempre juntos.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ele- Oh enfermeira, não me arranja um Cerelac?

Eu- Uma papa Cerelac? Tem fome?

Ele- Não um foguetão! Um Cerlac foguetão.

Eu- Não estou a ver o que precisa. Mas é para que? Tem dores é? É um Cetrolac o que precisa?

Ele- Não! Preciso cagar!

Eu- Ahhh precisa de um Microlax. Claro que sim, arranjo já um microlax cerelac foguetão.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Fim de semana de folga... soube-lhe bem?

Disse-me um senhor de pele bem morena esta manhã. É bom haver doentes que sentem a minha ausência e ficam felizes ao ver-me chegar. Afinal de contas eles são o mais importante do meu trabalho, e o seu reconhecimento é o que faz valer mais a pena. Tenho percebido que não é por manobrar melhor a agulha que me tornei mais competente, e que sinto falta das histórias partilhadas com os internamentos longos que aqui não acontecem. Sinto falta de lhes reconhecer os gostos e lhes saber os nomes sem dificuldades. De a pouco e pouco lhes conhecer as histórias de vida e de lhes agradecer as partilhas. Quando este senhor hoje me falou, eu perguntei-me quem seria ele, que nome teria e porque não guardava eu nenhuma recordação. Aqui é um entra e sai, muitos chegam de manhã para serem operados à tarde e terem alta à noite. Eu sou afectuosa, gosto de saber mais, de eu própria me dar mais, da partilha de atenções nesta forma singular.

E é bom isto, isto de se gostar mais de uma coisa do que de outra. Ir percebendo que o que me fez falta afinal é importante, mas pode vir a não ser fundamental.

Estou cada vez mais aberta a novos caminhos, é o que sinto. A uma maior diversidade de experiências profissionais e de vida. Novas oportunidades, ou mesmo novos desafios por mim despertados. Deveria eu estar a amadurecer, ou será este o meu amadurecimento?

E depois da caravana passar vem a poeira que a sua passagem provoca. A que se levanta densa como uma nuvem cinzenta. E eu ainda acreditei que ela passeasse sem deixar rasto, como se tal fosse possível nesta estrada de pó.

E ao fundo ainda a vejo colorida a percorrer o seu caminho cada vez mais longe. Parece que a minha viagem acabou… Mesmo que o meu coração ainda grite: Ah se eu pudesse continuava contigo para sempre.

sábado, 10 de setembro de 2011

A vida é uma caravana. E é isto.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Mais um que me faz lembrar aquilo que nunca vou esquecer.

sábado, 3 de setembro de 2011

Do amor ao casamento*

Uma amiga querida casa em breve (olá Isabel!) e eu infelizmente não posso estar ao lado dela nesse momento. Não posso porque acabei de entrar num novo emprego e para o segurar ainda não me é permitido arrebitar cachimbo, de forma que, vou aceitando aquilo que considero ser um abuso. Horários incríveis, ordenados miseráveis, trabalho e mais trabalho, olheiras e saudades. Nada mais parece interessar e eu, para sobreviver por uns tempos, vou ter que sujeitar-me a isso. Assim sendo, não me é permitido mais uma vez visitar o meu norte, o meu cantinho, a minha terra, nem reencontrar os meus amigos, abraça-los, enche-los de beijos e amor. Mas pior do que isso, não vou estar contigo, nem ver-te entrar na igreja, olhar para os olhos do Diogo a transbordar de amor por ti. Tenho a certeza que vai ser um dia feliz, sei que sonham com ele há muito tempo, e não me restam dúvidas de que, de facto o vosso amor é forte, é grande e uniu-vos numa grande cumplicidade.

Continuo a achar que o amor é o melhor que nos pode acontecer. Mas ainda não encontrei explicações para o casamento. Talvez tenha medo, talvez seja demasiado séptica, talvez o para “todo o sempre” a mim sempre me tenha parecido um grande risco a cumprir. Por isto admiro ainda mais as pessoas que tem a certeza de terem ao seu lado a sua outra metade, a que se encaixa na perfeição na sua vida, a que, apesar dos seus defeitos ou feitios, os ultrapassa, os aceita e ama, da mesma forma que se admira a beleza, a generosidade ou a paixão.

Minha querida Isabel, meu querido Diogo, principezinhos, amem-se muito e sejam sempre um para o outro aquilo que são hoje. Não se esqueçam de se mimarem todos os dias ao longo dos próximos anos, de verbalizarem os vossos sentimentos, de gritar o vosso amor. Vocês são abençoados por se terem encontrado, por terem as mesmas bases de estrutura de vida, porque quererem juntos aquilo que seria impensável construírem um sem o outro.

Felicidades*



sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Quando corro o risco de ser convidada a abandonar o hospital - parteI

A minha doente preferida do momento tem um leitor de cd no quarto e ouvimos sempre música enquanto cuido dela. Eu canto-lhe baixinho e ela bate palmas feliz. São momentos de pura alegria. Ela uma inglesa típica, franzina de olhinhos azuis, doce doce, que põe as mãozinhas no ar e abana os ombros cheia de classe a gargalhar perante as minhas maluquices. Eu uma enfermeira tresloucada, que faz piruetas e dá gritos histéricos.

Tenho descoberto maravilhosas músicas com ela. Hoje levantei-a da cama depois do jantar convidando-a para uma passinho de dança. Devagarinho foi pondo os pés no chão, as mãos nos meus ombros e, um passinho para lá, outro para cá, começamos a dançar.

Dançamos e cantamos esta música. E foi uma ma-ra-vi-lha.


L is for the way you look at me
O is for the only one I see
V is very, very extraordinary
E is even more than anyone that you adore can

Love is all that I can give to you
Love is more than just a game for two
Two in love can make it
Take my heart and please don't break it
Love was made for me and you

L is for the way you look at me
O is for the only one I see
V is very, very extraordinary

E is even more than anyone that you adore can

Love is all that I can give to you
Love is more than just a game for two
Two in love can make it
Take my heart and please don't break it
Love was made for me and you
Love was made for me and you
Love was made for me and you

quarta-feira, 24 de agosto de 2011



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

***Alzira***

Quando cheguei perto dela ainda estava quente. Mas pediram-me que fosse eu a prepará-la. Estremeci. Ainda não sei lidar com a morte, mesmo que seja de uma velhinha que teve a mão do marido junto à dela até aos últimos minutos. Pedi-lhe que saísse por uns momentos e ele em lágrimas atendeu ao meu pedido.

Falei com ela, pedi-lhe licença para a despir, para a lavar. Uni-lhe as mãos e os pés e senti-a arrefecer. A ela e ao meu coração. Sabia que o pior ainda estava para vir, já tinha visto o saco branco na mesinha de cabeceira. O meu estômago embrulhou-se, mil imagens surgiram na minha cabeça, os sentimentos todos revirados, a minha falta de concentração, um murro no estômago sem alívio, uma náusea que me invade o corpo.

Fiz tudo direitinho, como gostaria que o fizessem a mim e aos meus, quando o nosso momento chegar. Respeitar a morte, o corpo, a alma. Imaginei que ela própria já não estaria no seu corpo, mas em cima de nós a sorrir e em paz. O saco branco na mesinha de cabeceira continuava a dar-me vómitos. Virei-me para a janela, vi o sol lá fora já a pôr-se. Pensei na vida, na morte, que ela faz parte e dá-lhe sentido. Respirei. Voltei a olhar para o saco, chamei por ajuda e ganhei coragem para o momento. Em meu socorro veio a L. que não faz ideia do que aquele momento significava para mim, de como estava a ser insuportavelmente difícil e doloroso. Ela chegou. Ela abriu o saco branco e as duas conseguimos pô-la lá dentro.

O meu coração gelou. Fiz-lhe festinhas, disse-lhe que agora ira voar já longe de todas as dores. Disse-lhe que não a ia fechar lá dentro mas sim tapá-la com um lençol branco até aos ombros e chamar o seu amor para perto dela.

Ele entrou em soluços e abraçou-se a mim a chorar perdidamente. Disse-me que doía muito e eu disse-lhe que sabia. Não fui capaz de dizer que ia passar, porque acredito que não passe nunca. Não disse nada mas abracei-o com força. Segurei-lhe numa mão, enquanto ele se aproximou para a ver. Pediu-me que ficasse. Eu fiquei, a minha mão na mão dele, a mão dele na mão dela. Os três.

Sei que devemos aceitar o que se sente. A dor, a felicidade, a alegria, o medo. Sei que cada coisa tem que ter o seu espaço e o seu tempo. Respirei. Ele chorava eu era gelo.

Abracei-o. E disse-lhe que ia sair.

Á saída do hospital, ainda tive tempo para sorrir ao F. na recepção desejar-lhe uma boa noite de trabalho e um até amanhã. Corri para o carro. Finalmente o pano pode cair e chorei. Chorei e choro. Liguei o rádio até casa, ouvi o mundo a seguir em frente, pensei que eu estava a seguir em frente, que os minutos não param, que isto é a vida, um minuto atrás do outro até ao momento em o nosso tempo termina. Isto é viver e isto é morrer também. Convenci-me que a morte não pode ser a escuridão que aparenta, que faz parte mesmo que ainda não faça sentido, que o momento de hoje se irá repetir muitas mais vezes até ao dia que já não custe tanto.

Tenho a certeza que o cheiro do saco me ficará entranhado. Mas tudo o que me passou pelos sentidos será certamente atenuado com o tempo. O tempo não cura tudo mas ajuda-nos a compreender muitas coisas e a custo, muito custo ajuda-nos a saber aceitá-las. Quando a revolta passar. Os porquês passarem. Mesmo que um dia voltem todos, num segundo, com toda a força a serem sentidos. Como hoje.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Bons sonhos


Esta noite estive num espectáculo do Bob Marley e quando acabava o Pi dizia-me:

Bora, agora vamos ver os Sublime!


quinta-feira, 11 de agosto de 2011



sábado, 6 de agosto de 2011

Hoje há farra.
Amanhã há folga.
Adoro o verão. Amo.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

As minhas doentes e os seus poderes

Tratei dela nos últimos dois dias, uma velhinha linda que sentada não chegava com os pés ao chão.

Ontem à noite perguntou-me pelo meu marido e eu disse-lhe que não tinha (já a adivinhar a lamentação), então perguntou-me pelo namorado, e eu disse-lhe que estava muito longe. Está na tropa? Não me digas que foi para a guerra?

Saltou da cadeira e muito despachada foi buscar-me um presente.

Dá me a tua mão minha filha e reza comigo à minha santinha:

Ó Senhora do Perpétuo Socorro, mostrai-nos que sois verdadeiramente nossa Mãe obtendo-me o seguinte benefício: (faz-se o pedido) e a graça de usar dela para a glória de Deus e a salvação de minha alma.
Ó glorioso Santo Afonso que por vossa confiança na bem-aventurada Virgem conseguistes tantos favores e tão perfeitamente provaste, em vossos admiráveis escritos, que todas as graças nos vêm de Deus pela intercessão de Maria, alcançai-me a mais terna confiança para com nossa Mãe do Perpétuo Socorro e rogai-lhe, com instância, me conceda o favor que reclamo de seu poder e bondade maternal.
Eterno Pai, em nome de Jesus e pela intercessão de nossa Mãe do Perpétuo Socorro e de Santo Afonso, peço-vos me atendais para vossa glória e bem da minha alma. Amém.
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, rogai por nós.

(Rezar, durante nove dias, nove Ave-Marias e, no final, a oração acima.)

Agradeci-lhe. E ela olhou-me nos olhos com as duas mãos na minha cara e disse-me

- Minha filha, ele vai voltar.

sábado, 30 de julho de 2011

É isso.

Reajo a esse incomodo olhar
Nem quero acreditar
Que vem na minha direção
Há dias que estou a reparar
Nem queres disfarçar
Roubas a minha atenção
Aprecio o teu dom de tornar
Num clique o meu falar
Numa total confusão
Confesso que só de imaginar
Que te vou encontrar
Me sobe à boca o coração

É certo que sempre ouvi dizer
Que do querer ao fazer
Vai um enorme esticão
Mas haverá quem possa negar
Que querer é poder
E o nunca é uma invenção

Bem sei que este nosso cruzar
Pode até nem passar
De um capricho sem valor
Mas porque raio hei-de evitar
Se esse teu ar
Me trouxe ao sangue calor

E falas de ti
E Falas do tempo
Prolongas o momento
De um simples cumprimentar
Falas do dia
Falas da noite
Nem sei que responda
Perdida no teu olhar

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Os meus doentes

Demência, é o seu diagnóstico e quando se trata de doenças mentais é sempre tudo muito difícil, porque nunca sei como alcançá-los, como captar a sua atenção, ou como os impedir de me darem uma galheta.


Disse-me para não me esquecer nunca do nosso trato secreto, porque combinamos trocar isto por aquilo. Na minha mão direita contou oito dedos e quando contou os da esquerda, começou… dois, quatro, seis, oito… 20, tens 20 dedos.
Falei-lhe do apelido que temos em comum, leu o nome na minha identificação e lançou-me um ar muito sério. Depois parou, olhou para mim (medo) e disse que ficava contente por sermos bons vizinhos.
Não consegue dizer nada com nexo, não se lembra do nome da mulher nem do filho, arranca cateteres com dentes e fica imobilizado na cama, preso pela cintura e braços (detesto fazer-lhes isto) para que pelo menos durma sossegado, sem saltar grades, ou arrancar algálias.
Ás vezes sorri-me quando lhe falo de comida, mas diz que não tem apetite. Quando insisto com ele para que coma tudo até ao fim, grita-me para que pare, e pare já! Hoje caminhou comigo de mão dada (que ficou roxa) pelo corredor, falou e falou. Não sabe em que ano estamos, não sabe que dia é hoje, nem se é inverno ou verão. Não sabe onde está, nem porque está ali. Nem sabe quem é, como se chama, se voltará a ser livre.
Não sei o que lhe aconteceu até ficar assim, até chegar a este ponto de completa ausência existencial. Não é violento, ou pelo menos não o foi até ao momento, mas tem aquele olhar fixo, perdido, descontrolado, como se nada fizesse sentido e já nada lhe importasse.
A esta hora já deve ter levado uma injecção para dormir, todas as noites a mesma coisa, sem ela fica muito agitado e aflito. A noite torna tudo ainda mais assustador, o escuro, o silêncio. Por volta das 5h vai acordar, não grita, mas tentará levantar-se a todo o custo, lutando contra o seu próprio corpo, e às 7h fará mais medicação para se acalmar. Todos os dias, um atrás do outro, até que as melhoras cheguem, ou pelo menos o tragam um pouco mais para o mundo.
Eu não consigo não pensar nele. Amanhã quando chegar, vamos passear novamente pelo corredor, no fundo desejo muito encontr
a-lo melhor, mais lúcido. Mas é apenas esperança, ela existe, mas é pequenina e frágil. Talvez a nossa lucidez o seja também.



terça-feira, 26 de julho de 2011

Das melhores noticias dos últimos dias, vem aí um bebé:)

domingo, 24 de julho de 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Quando voltar não significa dar um passo atrás:

Estive muito tempo à espera de voltar a sentir-me bem. Tanto, que cheguei a duvidar se voltaria a ter vontade de sair da cama para viver a vida lá fora. Senti-me sufocada e por isso parti, com muito pouco, sem grande expectativa, sabendo apenas que à partida pior não poderia ficar.

Decidi regressar quase de um dia para o outro, achando-me um pouco esquizofrénica mas sem me preocupara muito com isso. Nem com isso nem com nada de muito específico. Queria apenas arranjar um trabalho aqui, debaixo do sol, voltar a cuidar dos outros com amor e realização.

Quando cheguei, mal saí do avião deixei-me evadir pelo cheiro da terra quente, da maresia, desta terra que adoro e onde me sinto tão bem outra vez. E com isto voltei a ter fé, voltei a ter esperança de que, de alguma maneira, o caminho agora ia ser diferente e senti-me finalmente preparada para recomeçar. E tudo se foi compondo, correndo bem, com boas noticias umas atrás das outras.

Hoje acordo feliz, respiro o ar quente da manhã feliz, entro no carro feliz, vou trabalhar feliz, vou à praia feliz e sinto, quando o dia começa a terminar, que este bem-estar e tranquilidade que me evadiram continuarão amanhã.

Partir não foi a solução, mas ajudou-me a compreender que há coisas que realmente me definem como pessoa e sem as quais não sei viver. Eu voltei, voltei de lá e voltei a mim. E desta vez espero ficar por muito tempo, e desejo profundamente que este novo ciclo de vida continue a cada dia repleto desta leveza, deste sorriso fácil e deste coração cheio.

domingo, 17 de julho de 2011

terça-feira, 12 de julho de 2011

Começo a preferir as insónias aos sonhos.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

um de cada vez. Este primeiro*

sábado, 18 de junho de 2011




O melhor da vida?
os amigos. Os de sangue, os da vida toda, os que estão sempre cá, lá, onde for preciso. Os que não se esquecem e nos amparam quando mais precisamos. Os que não se fartam nunca de nos ver tristes porque sabem que um dia voltaremos a nós.
Os que aplaudem as nossas escolhas mesmo quando desconfiam não serem as melhores, mas respeitam-nas porque as fizemos sozinhos e depois com eles.
Os meus amigos.
Obrigada*

domingo, 12 de junho de 2011

Só porque me alegra o coração*


é que manhã acordo às 4h para às 5h30 já estar a bombar de avental verde. Ainda não sei o que faço aqui.

sábado, 11 de junho de 2011

Chuva

Ontem era fria como a neve a bater-me na cara, a entrar infiltrada pelo casaco adentro. E fiquei parada, a tentar gostar dela, a senti-la cair-me no rosto, na palma da mão e a observá-la vinda do céu. Já que te tenho todos os dias até podia aprender a gostar de ti, não?
Never.



segunda-feira, 30 de maio de 2011

Enfermeira Olim, plim*

Quando estamos do outro lado, a cuidar de quem está doente, é impossível não pensarmos em como seria se ali estivéssemos nós. Como seria não ter força nem corpo, não ter voz nem escolha, apenas ir vivendo do cuidado dos outros, do bom e do mau.

Ser alimentado, ser acordado, ser posicionado por alguém. Pegarem em nós todos os dias para nos darem banho, mudarem-nos a fralda, cuidarem das nossas feridas como feridas, sem saber a que sabe a dor.

Os olhares vazios e ausentes dos que li estão presos a um corpo, a uma condição que nos ultrapassa, que ninguém quer para si porque ninguém gosta de sofrer, de ser dependente, de precisar mesmo sem conseguir pedir, que façam tudo por nós próprios, tamanha é a nossa incapacidade para fazer seja o que for.

Cuidaste de tantos e sempre disseste que se um dia ficasses assim preferias morrer.

Por isso hoje, quando soube que após seis meses de luta partiste finalmente, imaginei-te leve e não vencida, liberta do medo de ficares ali invalida como os doentes que juntas tratamos tantas vezes.

Para mim foi também um alívio saber que a vida te levou para um outro lugar. Um lugar sem dor. Um lugar cheio de Paz.

Paz querida A.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O meu vizinho de cima é um homem de pujança. Há 17 minutos que faz o amor com sua mulher fervorosamente e sem pausas. O meu tecto range, a minha porta lateja e eu temo pela minha vida.

Haja saúde.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

29 anos, 53 minutos e nem uma lágrima

Quando fiz 27 anos vivi uma crise existencial. Que não podia ser, ter chegado até ali e não ser a pessoa que com 10 achava que a essa altura já seria. Porque não tinha encontrado um lugar certo para viver, nem tinha o trabalho que me realizava, nem sabia ao certo como ia ser o dia de amanhã, nem tinha pelo menos um filho, logo eu que desde os 16 não falava de outra coisa.

É engraçado fazer 29 e não ter nenhuma destas inquietações. Estou momentaneamente desempregada, vivo num país estranho e sem sol, e apesar disso sinto que não podia neste momento ter feito as coisas de outra forma que não desta. Deve haver um propósito para estar aqui, porque foi quase a ultima opção, porque eu dei tanto tempo ao tempo para que o natural e mais desejado acontecesse, porque eu passei muitas, muitas horas de sono a pensar em alternativas e porque, se assim não tivesse que ser, não era de nenhuma forma justo eu estar aqui agora. E se eu tivesse conseguido voltar ao norte, eu já quase adivinharia uns quantos outros desfechos igualmente previstos, talvez até mais previstos do que profundamente desejados.

Parece que me tornei uma pessoa pouco estável. Nos sentimentos e nos desejos. Hoje, depois de tudo o que vivi aos 28 alegra-me apenas estar viva, ter ainda mais tempo para ir cometendo estas pequenas loucuras, ter a maturidade para aceitar os nãos da vida sem que disso faça imediatamente um grande drama, e ter a delicadeza e a sensibilidade que tão bem me caracterizam, sem sentir nem me preocupar que, aos olhos de alguns , pareça que nunca mais parei se ser criança.

Eu não me importo de estar assim, porque esta é a melhor forma de eu me sentir feliz agora. Não me parece que isto me baste, mas agora, agora é apenas isto. E amanhã, amanhã logo se vê.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Mais uma descoberta: Osvaldo Montenegro

'Não pense que o mundo acaba ali aonde a vista alcança. Quem não ouve a melodia acha maluco quem dança. Se você já me explicou agora muda de assunto. Hoje eu sei que mudar dói, mas não mudar dói muito.'

Osvaldo Montenegro

Obrigada Rita*

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Hoje íamos na rua e dizem-me. Ouve esta música eu acho que tu vais gostar.
E eu amei.

O meu mundo era o apartamento
Detefon, almofada e trato
Todo dia filé-mignon
Ou mesmo um bom filé... de gato
Me diziam todo momento
Fique em casa, não tome vento
Mas é duro ficar na sua
Quando à luz da lua
Tantos gatos pela rua
Toda a noite vão cantando assim

Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora, senhorio
Felino, não reconhecerás

De manhã eu voltei pra casa
Fui barrada na portaria
Sem filé e sem almofada
Por causa da cantoria
Mas agora o meu dia-a-dia
É no meio da gataria
Pela rua virando lata
Eu sou mais eu, mais gata
Numa louca serenata
Que de noite sai cantando assim

Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora, senhorio
Felino, não reconhecerás

domingo, 15 de maio de 2011

And you are always with me

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O mundo está dentro de mim. Esta mente, esta minha mente é a mesma que me mostra a beleza, o tamanho do mundo e dos sonhos e a mesma que me atira vezes sem conta para o mais assustador poço de medos. No mesmo dia passo por estranhos estados de alma, tão diferentes e tão difíceis de equilibrar.

Penso demasiadas vezes como a maior padecente do mundo, que já chega, que já não mereço mais isto, que já suportei tantas coisas difíceis e o fiz por demasiado tempo, que já me fartei de perder e que até já me lancei sozinha nesta luta. E peço peço, imploro, oro, rezo, medito, leio, inspiro-me, inspiro e desejo, desejo tanto que a minha vida comece a retomar um rumo mais certo, um caminho mais sorridente, um cantinho mais colorido onde eu possa enfim, voltar a viver em paz.

domingo, 8 de maio de 2011

here you are and then you gone

domingo, 1 de maio de 2011

.

E às vezes são muitas as pequeninas coisas que me fazem encontrar a resposta. Uma que chega inofensiva, outra e mais outra... e quando dou por elas e as sinto todas juntas descubro que já mais nada há a fazer.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Verdade

Escrito por este senhor ali e eu gostei tanto que o quero guardar aqui

Amor, Amore, Love, Amour, Liebe

O Amor em Portugal é um sopro ou um segredo, mas nunca é um grito. Os portugueses escondem a palavra "Amor" debaixo da língua ou atrás dos dentes como se tivessem vergonha de a soltar e, não vá ela morder alguém, quando a deixam vir cá fora espreitar amordaçam-na com o acento circunflexo (ô) que está lá mesmo sem estar.
Já os ingleses dizem "Love" como quem vai beber uma Pint a um pub, o que torna a palavra um tanto ou quanto banal. Aplicam o "Love" tanto a uma pessoa como a um objecto qualquer. Se uma inglesa me disser "I Love you" alguma vez na vida, ficarei sempre na dúvida se ela me ama ou se me quer comprar. A palavra "Love" não se esconde como a palavra "Amor", mas circula de boca em boca como um bêbado solitário o faz nas ruas de Londres: sem dar cavaco a ninguém.
É por isso que gosto da Itália, onde "Amore" é tão grande que é difícil escondê-la onde quer que seja, quanto mais num canto da boca ou atrás dos dentes. O "Amore" é aberto e confirma-se sempre com o "Io te voglio tanto bene" para que não restem dúvidas e para que a coisa venha com garra.
A garra, precisamente, é o que falta aos franceses. O "Amour" nunca vem só, é servido numa taça com champanhe, flores e caviar como se só pudéssemos ter o seu usufruto se lavássemos primeiro as mãos e nos vestíssemos apropriadamente. Exactamente o contrário dos alemães, cujo "Liebe" parece ter tesão para pouco mais de cinco minutos.
A forma como se diz "Amor" quer dizer tudo sobre um povo, e se é verdade que nós não somos capazes de gritar como os italianos, não nos queremos vulgarizar como os ingleses, não somos de floreados como os franceses nem martelamos como os alemães, também é verdade que segredamos como ninguém.
O nosso "Amor" é assim, um segredo que vagueia entre a louca nudez de um dia de Verão e a tristeza momentânea de um dia de chuva. Somos assim. Eu sou assim. De facto tenho orgulho nisso, num Amor que é tão saboroso quanto melancólico e que só se dá quando os lábios se aproximam do ouvido e dizem: "Eu Amo-te!".

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Viver um dia de cada vez enchendo-o de coisas novas, pessoas novas, lugares novos, jardins, flores, ruas, lojas, parques, ruas, autocarros, barulho, gente, é para mim neste momento a verdadeira definição de felicidade. E a falta que eu sentia disto.

imagem retirada daqui



quinta-feira, 14 de abril de 2011



Ontem brindamos na praia

Hoje brindei num mundo novo

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Regresso ao passado


Obrigada T.

sábado, 9 de abril de 2011


E eis que é sempre assim… Depois de dias e dias a correr tudo mal, a encher-me de medos sem sentido, a perder coisas importantes, a lamentar o que ficou para trás como se por milagre me pudesse ser tudo devolvido com papel de embrulho, eis que tudo começa a melhorar.

E recebo as melhores mensagens dos amigos Londrinos, os maiores votos de confiança, à última da hora faço os últimos negócios, reencontro pessoas com as boas experiências de vida por Londres, reaparecem documentos perdidos, fico horas e horas a falar com amigos que me lêem o coração e cujo toque me enche de vida.

E acredito outra vez.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Eu pergunto-me como é possivel alguém ser assim como eu. Em vésperas de partir consegui perder os documentos que já tinha prontos. Bonito di, sim senhora.

terça-feira, 5 de abril de 2011

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Deve ser por isto que custa tanto.

quarta-feira, 23 de março de 2011


Uma semana. Daqui a uma semana este deixa de ser o meu trabalho, esta a minha casa, este o lugar no qual vivo, estas as pessoas com quem estou todos os dias, este o meu carro, este o supermercado onde me abasteço, este caminho que faço. Daqui a uma semana, vou encher o meu carro com o que me resta, e vou partir. Esperei tanto por este momento, desejei tanto, tanto, quase que posso dizer que desesperei tanto por ele, que agora que chega, estou em paz, estou tranquila. O amor vai no meu coração, não tenho nunca que o deixar para trás, e é ele que me une para sempre a todos os que conheci e se tornaram família. No meu coração cabemos todos, para sempre*
Uma semana, é o tempo que falta para a minha vida mudar.


segunda-feira, 21 de março de 2011

Ultima noite no serviço*

Não volto a fazê-las tao cedo:) WEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE

Passei agora perto do M. para ver se estava bem, teve que ir ao banhinho.... E então lá lhe perguntei...

Eu- M, como é que eu me chamo? Diiiiiiiii
Ele- Diiiiiiiiiiimerda!

domingo, 20 de março de 2011

"Não fiques na praia com o barco amarrado e medo do mar!
Tudo aqui é miragem mas na outra margem há alguém a esperar!
...Como a onda que morre, sozinha na praia,
Não fiques brincando!
No ar confiante, ensina o teu canto de ave voando!
Ninguém te ensinou, mas no fundo tu sentes, asas para voar!
Nem que o céu se tolde e as nuvens impeçam, tu não vais parar!
Há gente vivendo, tranquila e contente,
Como eu já vivi!
És águia diferente, céu azul, cinzento,
Foi feito para ti!
Voa bem mais alto, livre sem alforge, sem prata nem ouro,
Amando este mundo, esta vida que é campo
e esconde um tesouro!"

O meu querido colega Hélder sabe que eu sou um passarinho e mostrou-me esta canção. Prometi não me esquecer dela e lê-la sempre que precisar de força.
-Foi feita para ti Di, embora não saiba quem a escreveu.
Obrigada! Ainda não fui embora, mas já me custa imaginar o momento das despedidas. Adivinham-se muitas lágrimas, mas um coração cheio.

 
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