sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Dois dias de molho

- Tia se tiveres gripe A vens na mesma nas férias do natal?
- Claro. Pomos máscaras e luvas e tudo e tudo. Vou a qualquer preço.

Eu tenho alma de enfermeira não há dúvidas disso. Acho sempre que se cuidarmos dos outros porque precisam e o fizermos de alma cheia não há vírus que nos contamine. Sou uma poética. Talvez até uma ridícula poética. Mas a vida tem muito mais graça se for encarada com leveza e sem grandes dramas.
A gripe A é apenas uma gripe. Apesar de ter convivido sem problemas com a minha colega de casa e ter cuidado sem qualquer tipo de temor de um doente contaminado o meu teste deu negativo. Ainda bem. Assim começo a imaginar os beijos intermináveis que darei à minha família e amigos que não vejo desde Setembro e de quem tenho tantas saudades. Caso contrario haveria encontro e sorrisos e tal mas não brincaria com a sorte. Porque o amor pode até ser tolerante mas não permite idiotices.
Está quase:)

PS – meu querido amigo Sérginho obrigada por teres cuidado de mim durante a quarentena devido à minha pseudo gripe A. E me teres aturado mais de 24h seguidas com variações de humor (se bem que dormi mais de 23h) e além disso sobrevivemos a um terramoto juntos. Avaliei a temperatura mais de 5000 mil vezes e se esperas que diga que foste compreensivo enganas-te.
E já agora será que sobreviveremos ao ketchup de Setembro de 2009?

sábado, 12 de dezembro de 2009

Podia ser verão o ano todo.
E haver banhos de mar todos os dias.
Foto by Nat

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

D.

A primeira vez que vi a D. ela estava deitada numa maca, depois de não ter sido aceite na consulta para o internamento. Não falava quase nada e o que dizia era imperceptível. O corpo pesado e flácido. A cara transmitia uma dor imensa, e gemeu muito enquanto lhe mudávamos a fralda.
Meses depois voltou e ficou internada. Lembro-me que ela nos chamava muitas vezes durante a noite e que se queixava muito contorcida de sofrimento enquanto lhe colocávamos a arrastadeira.
Não fazia nada sozinha. Tinha muitas dores nas pernas e nos ombros e mal lhe podíamos tocar. Dizia que o corpo ardia por dentro, e era tão difícil entende-la que já repetia sempre as mesmas frases.
A paralisia dos músculos faciais roubava lhe quase toda a expressão.
Meses e meses se passaram e há uns dias vi a D. a caminhar de andarilho, sozinha. Estava no pátio exterior. Um pezinho de cada vez, linda.
Hoje fui buscá-la ao átrio dos lanches e viemos as duas, a caminhar de mão dada.
Disse-lhe que estava muito feliz e orgulhosa dela. Que era uma felicidade imensa vê-la a caminhar pelo seu próprio pé, erguida outra vez depois de tudo o que passou. Ela respondeu-me que o coração dela nos levaria a todos dentro dele para nunca mais esquecer.
Querida D.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Biba!!!!!!!

É incrível a velocidade das coisas. A forma como a tristeza de ontem se torna numa risota hoje. Estava eu no meio da passagem de turno, com ar empenhado e responsável, quando recebo a mensagem da Nat. A minha veia expressiva, que incha e desaparece no meu pescoço conforme a velocidade das minhas emoções quase dilatou para sempre.
Soltei uma gargalhada imensa perante o ar incrédulo e sonolento de todos. Vi olhos acabados de sair da cama e outros que nem a ela tinha ido, dirigidos a mim como flechas.
Minha irmã a vida é uma comédia é o que te digo, sendo que a mensagem foi das coisas mais cómicas e carregadas de boas energias que alguma vez li.
Voa nat, minha amada querida. O mundo é tão grande! Não é?

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Graças ao senhor

O chefe foi à vidinha :)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009


There's no combination of words I could put on the back of a postcard
No song that I could sing but I can try for your heart
Our dreams and they are made out of real things
Like a shoebox of photographs with sepia-toned loving
Love is the answer at least for most of the questions in my heart
Why are we here? And where do we go? And how come it's so hard?
It's not always easy and sometimes life can be deceiving
I'll tell you one thing, it's always better when we're together

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Obrigada David




Eu e o David dançamos tanto hoje. Eu e ele juntinhos.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Em formação a sul

Dou por mim a espreitar pela porta das urgências do hospital enquanto caminho para a sala de formações. .
Ouço os meus colegas partilharem experiências e sinto orgulho neles. Os enfermeiros deste país são heróis. Heróis sem medos e de coração forte.

domingo, 1 de novembro de 2009

O.

A O. é uma senhora linda. Está internada há já algum tempo a recuperar devagarinho de um AVC que a deixou sem que consiga exprimir-se com palavras.
Repete vezes sem conta ao longo do dia bó bó para tudo o que precisa de dizer, pedir ou agradecer. Não compreende tudo o que lhe dizem, e por isso tento falar-lhe sempre baixinho, devagar e repetindo várias vezes. De vez em quando meto-lhe um rebuçado de frutas na boca e ela fica muito contente.
Esta semana foi-lhe dito que terá alta. Vi-lhe os olhos azuis torneados de vermelho de tanta dor.
Tentei tirá-la da cama para irmos apanhar sol. Respondeu bó bó e o estender de braços fez me perceber que sim. Que queria.
Sentei-me no muro, as minhas mãos e as dela juntas. Repetiu bó bó e bó bó como se tudo fizesse sentido. Olhava para mim nas pausas. E perguntava-me com o olhar se não achava que ela tinha razão. Apontou para os dedos em sequência, bó bó bó bó. Chorou.
Fechava os olhos muito tempo.
E quando os abria olhava para mim.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

moço eu fico todo arrepiado a ver isto

http://www.youtube.com/watch?v=A9CmZXSSYmc

quinta-feira, 15 de outubro de 2009


Tenho um chefe novo. Daqueles que vêm para impor respeito aqui ao enfermeirinhos saídos da casca que nem sequer chegam aos 30 anos. Somos uma cambada de miúdos…meio que atrasados mentais a quem ele vem dar a sua contribuição para nos meter na linha, nos dar educação e ensinar o que é o respeito.
Já tivemos o nosso primeiro encontro. Foi tão encantador! Este senhor fez-me ficar pasmada de incredibilidade. Ouvi-lo gritar de dedinho empinado contra mim foi um regresso ao passado. Relembrar as minhas queridas professoras freiras que tantas vezes me ensinaram via berros e arrogância qual era o meu lugar. Agradeço-lhes. Agradeço mesmo, porque hoje ninguém me faz o mesmo ou pelo menos não me fazem sentir a tristeza de antes.
Estou a pensar oferecer-lhe um chicote :)

domingo, 11 de outubro de 2009

Aos Domingos

Hoje foi uma tarde de trabalho diferente. Pouco doentes no serviço, vários enfermeiros a trabalhar e por isso sobra tempo. Tempo para dar atenção aquelas coisas que até vemos mas não temos tempo para mudar ou detalhar.
O C. pediu-me mal cheguei para o passar para a maca e levar a “tomar sol”. Quem me dera, leve-me enfermeira…
Hoje levei.
O C. é de cabo verde. Um homem pobre, que deve ter crescido e vivido sempre na mesma aldeia e desde cedo começou a trabalhar. Fez-me diversas perguntas. Se as árvores que nos rodeavam davam frutas, se era sempre verão em Portugal, se eu já tinha comido cachupa, que é tão boa, quanto custava o hospital, se havia lobos na serra e se os via passar.
Falou muito. Deixe-o deliciado e eu própria mais uma vez fiquei a admirar o lugar. Ainda soltei uma gargalhada sincera e boa quando me perguntou: Enfermeira custa um telemóvel muito caríssimo em Portugal?
Falou-me do peixe de cabo verde, de como era a vida dele, e mostrou-se conformado com a nova vida que terá. Não sabe muito do mundo, das coisas nem parece ter noção do tamanho do mesmo.
Transparece uma tranquilidade imensa. Vive deitado entre macas e camas há 4 meses.

Estive em Lisboa

Tenho pensado… que eu devia era estar numa cidade grande. Que rapidamente me habituaria de novo às multidões, aos enjoos no metro, ao cheiro dos outros muito perto de mim, à sua mistura.
Gosto de observar. De me deslumbrar com gente. Gente sem medos de ser diferente e que ilusoriamente ou não, me parece ligar menos à vida alheia.
Ter caminhos alternativos. Programas e ofertas variadas de experiências, todos os dias. Cores movimento, pessoas, música, arte, lugares.
Não queria correr para apanhar o transporte que me levaria ao emprego. Mas sinto falta de mais adrenalina. Mais movimento à minha volta.
Uma terrinha sossegada no Algarve é perfeita para se sentir paz, tranquilidade, sossego. E isto é tudo para mim. Mas o meu corpo, a minha mente parecem pedir mais.
Quererá o passarinho voar?

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Pikus Pikuz Maçarico

O meu querido amigo D. faz anos hoje. E somos realmente amigos, do peito, do coração e do maravilhoso Porto mas eu perdi o número dele.
Tenho saudades tuas e de me rir contigo. De te abrir a porta da minha casa e conversarmos sobre nada e sobre tudo, na altura em que não havia horas para acabar uma conversa. A distância até podia fazer me esquecer a data, mas um amigo como tu é coisa que me lembro sempre. E no fundo és o meu merdoso favorito. E eu gosto de ti*
Parabéns:)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Foi lindo


lindo*

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Porque ainda é verão


Adoro a praia em Setembro. Está a temperatura perfeita, quase vazia e a água deliciosa. Deito-me e adormeço ao som do mar. Quando acordo perco algum tempo a olhar para o céu e fico simplesmente a deslumbra-lo. Faço caminhadas pela areia e volto para a toalha onde adormeço novamente.
Simples e delicioso.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Casório

As meninas


Os padrinhos


Os meninos

Os noivos


quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Estrelinhas do sul

Parece que dois meninos estão doentinhos em casa.. logo agora que a enfermeira rumou ao norte.
Eu queria estar pertinho e cuidar de vocês. Fazer-vos papinha de fruta com muita laranja. E dar-vos colinho e beijinhos sem querer saber da gripe.
Não há vírus que supere o amor que se sente.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Frio em Agosto

O F. disse me que tinha muito frio. Que já batia os dentes e queria ir para cama e ficar todo tapadinho
Estou gelado por dentro. Sinto o meu corpo congelado por dentro. Enquanto tremia e batia o dente.
Expliquei-lhe porquê. O que mudou no seu corpo para que agora não seja tão fácil manter-lhe a temperatura ideal. Porque é que o ar condicionado a uns refresca e a ele o estava a congelar.
Deitei-o na cama. Posicionei-o até que se sentisse bem. Tapei-o tapadinho com lençol, colcha e afagos. E meti-lhe um caramelo na boca.
Pensei como é pequenino este menino. Como é transparente no terror que sente, como ainda fica mais pequenino tapadinho até ao pescoço com os olhos castanhos e pestanudos a sobressair na cama branca. Falamos de caramelos de fruta, das derrotas do Sporting, do hipotálamo e da medula com a mesma calma e descontracção.
Fui aconchegando a roupa da cama e passando a minha mão pelos seus braços e pernas para que o frio passasse. Vai passar digo-lhe. E ficas comigo até que passe? Fico.
Quando avaliei a temperatura pela última vez a hipotermia tinha passado e o F. dormia. Ia a sair do quarto quando os outros dois doentes que o partilham com ele me perguntam a sussurrar

O F. adormeceu Diana? Ele está bem?
Sim. Vamos deixá-lo dormir.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Havemos de ir a Viana

Entre sombras misteriosas
em rompendo ao longe estrelas
trocaremos nossas rosas
para depois esquecê-las.

Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.

Partamos de flor ao peito
que o amor é como o vento
quem pára perde-lhe o jeito
e morre a todo o momento.

Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.

Ciganos, verdes ciganos
deixai-me com esta crença
os pecados têm vinte anos
os remorços têm oitenta.


Pedro Homem de Melo


Tenho saudades de viana e de a ver romper na ponte. Tenho saudades da minha terra.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

F.

Diana para onde achas que vão as pessoas quando morrem?
Não sei. Mas acredito que morrem em paz. Porque me perguntas isso?
Porque eu não sei porque não morri no acidente. Nem sei o que é que devo fazer no mundo agora que estou assim. Será que se tivesse morrido… será que sentiria o meu corpo lá para onde se vai? Ainda penso que é um pesadelo. Isto. Não sentir o meu corpo.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Recordações


A quase apenas um mês do casório cá estamos nós. A madrinha, o padrinho e o noivo. Isto há uns anos atrás numa noite de enganos mas de loucura fresca, da boa.
O meu amigo vai casar, e eu e o Dias vamos estar ao lado dele. Como já o fizemos nas alegrias, nas tristezas e em todos os dias da nossa vida.
Para sempre.

E o menino, dança? ;)

terça-feira, 28 de julho de 2009

A.

A tristeza do Sr. A. deve-se a ter deixado de ver passar a sua sereia. Contou-me na última vez que o fui acordar de manhãzinha. Tinha desfeito a fralda toda com as mãos e havia uma nuvem de algodão à sua volta. Destapado, desoriento e triste. Perguntei-lhe o que tinha.
“Tenho saudades Diana. Saudades de a ver passar… nem o mar consigo ver daqui, mesmo que ela me acene eu não vou conseguir ver. Chamas-te Diana não é? Como a princesa… a que morreu por isso não me esqueci”
O Sr. A. é muito velhinho e eu gosto muito de cuidar de velhinhos, tenho-lhes quase automaticamente um carinho ainda maior. Principalmente quando me contam histórias, algumas da vida outras da imaginação que traduzem a falta da família, da sua casa, das coisas do dia a dia que de repente desaparecem. Talvez não seja muito pertinente da minha parte participar nestas histórias com eles como faço, seria aparentemente mais correcto orientá-los. Mas eu começo com as minhas perguntas e entro na fantasia e sabe-me tão bem… desligar da doença, da dor, da limitação… e alçar a imaginação e rir em vez de chorar, mesmo que seja por uma ilusão, é apenas uma maneira de passarem melhor o tempo, de viver melhor aqueles momentos de sofrimento.
“Oh Diana diz – me lá a verdade… foi ela que te mandou cuidar de mim não foi? A minha sereia...”

sábado, 25 de julho de 2009

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Doentes de quem gosto e não sei porquê

Paquistanês de olhar profundo conseguido por uns olhos negros. Mais jovem do que aparenta, grande e forte, com umas mãos raquete como eu costumo chamar. Já me acertou com o punho fechado em pleno peito durante uma crise convulsiva que quase me mandou desta para melhor. Mas gosto dele na mesma. Tem uma cara estranha, e não o olho nos olhos muito tempo seguido porque me arrisco a que ele se ofenda. O M. apesar de ser à partida um doente detestável despertou muito carinho em mim. É muito bruto e de difícil trato. Arranjei no entanto uma técnica para o distrair que me permite cuidar dele sem levar a qualquer instante, e sem que nada o fizesse prever, pontapés e socos nada fáceis de tolerar. Levei alguns, como já disse um mais forte e crítico que me fez perder a cabeça por instantes partindo eu própria para umas ofensas verbais. Até que tive a ideia de lhe ensinar a falar português.
Ele soletra as palavras que lhe ensino. Digo em inglês, traduzo para português e ele repete. Enquanto isto, que dura largos minutos, dispo-o, dou-lhe banho ou faço o tomar a medicação. Odeia sentir frio, e por isso foi uma bênção o verão ter chegado com toda a força, porque só se queixa mesmo à saída do banho.
Chama-me Joana… “Oh Joana… give me a kiss”
Recebe visita do irmão todos os dias e abraçam-se muito tempo.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Premonições

A D. C. teve alta hoje. Velhinha e obesa agradecida pelos quilos perdidos e pela força que ganhou nas perninhas disse-me antes de partir:

- Muito obrigada por tudo enfermeira Diana. Obrigada a todos pelo que fizeram por mim, vocês são todos tão bons tão bons! Não levo queixas de ninguém. Que Deus te abençoe minha filha, e que te pague. Ou então joga naquilo dos milhões, pode ser que te saia algum. Que bem precisas.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

É assim que gosto de me sentir quando preciso de mudar. Com projectos nas mãos.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Se eu pudesse dava colinho a todas as crianças do mundo. E dava-lhes esperança.
E sonhos.
E não as deixava viver sem muitos beijos abraços e colo.
E amor.
E tempo para brincar. E pais. E avós.
E amigos para a vida.
E praia, risadas e brincadeiras. Pés na lama, petiscos de areia, quedas e mãos fortes para as agarrar.
E alimento. Do corpo e da alma. E arte e música, e cor.
E deixava-as ser livres mas nunca sós.
E sentia-lhes o cheirinho. Que é delas como de ninguém.

quinta-feira, 28 de maio de 2009


Melhor noticia do mês.
Melhor casamento do ano não fosse a Rita a melhor noiva do mundo;)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Vinte e sete

Ontem fiz 27 anos. Meti na cabeça que não queria festejos nem ramboiadas queria apenas e só fingir que os 27 não tinham chegado. Vivi a aproximação do dia com uma certa atormenta, muito ridicularizada por mim e por todos os outros.
Vinte e sete anos... soavam dentro de mim. O que eu gostaria de ter e não tenho. Parecia-me ser a justificação possível para o que sentia.
Fui trabalhar, fugindo dos gritinhos de alguns “ A Di faz anos!” Fugi, não estou a exagerar. Fugi dos parabéns cantados e aplaudidos, e dos que não consegui escapar vivi-os com algum sacrifício e muita vergonha.
Depois fui recebendo mensagens beijos e abraços e eu sou a rainha da lamechice. Dos meus amigos de sempre, dos de agora, os parabéns a você cantado pelos meus sobrinhos, dos que trabalham comigo, dos meus doentes, da minha esteticista algarvia e da sua assistente, do meu cabeleireiro do porto, amigos que fiz no intercâmbio ao Brasil, amigos que não vejo nem oiço há anos, e do meu querido pai, que 27 anos e um dia depois me telefona e me diz que só quer que eu seja feliz.
Por tudo isto quando me deitei e fiz o balanço e a lista negra (dos que se esqueceram) pensei. Pensei no que tenho com 27 anos. Pensei na forma como fui construído a minha vida, pelos lugares por onde fui passando e tive a certeza que fui semeado muito amor. E depois acabei por me rir, porque perdi tanto tempo a fazer a lista do que não tenho e queria tanto ter, com esta idade adulta, e nem por algum momento parei para pensar no que todos estes anos me trouxeram ou fizeram de mim. Sou uma mulher, é certo que com 27 anos, mas sou uma mulher muito feliz.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Praga


Estava prestes a partir para Praga, íamos na viagem para o aeroporto de Faro quando a P. me disse, em forma de ralhete, que pouco importa o dinheiro que se gasta numa viagem porque o se ganha, o que se absorve, não tem preço.
A P. tem razão. Viajar quase nos faz esquecer de tudo o resto, como se a nossa vida ficasse no aeroporto. Andar sem amarras, sem pressas, sem planos. Partilhar um pouco de nós como o mundo e aspira-lo, novo, diferente e tão bonito.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Verde Viana











Na palma da mão.

Parar e estar de férias. Divertir-me e reencontrar os amigos. Ter uma viagem na palma da mão e andar de volta dos últimos preparativos, da mala e das sandes, da roupa.
Andar pela casa descalça a cantarolar, a ansiedade o bem-estar. Devia viajar muito mais, só pela felicidade que se sente.
Praga. Aqui vou eu.

Queima do Porto 2009



quarta-feira, 6 de maio de 2009

Como?

Já não sou convidada para festas de anos em piscinas e parques temáticos mas para madrinha de casamentos. Fico feliz, muito mesmo, mas esta coisa de estar cada vez mais próxima dos trinta não é algo que me alegre muito.
Hoje volto à queima do porto. Já não sou caloira nem finalista. Já? O tempo nem precisa de pernas para andar porque tem asas. Os meus amigos refazem vidas, querem casar e ter filhos. O meu sobrinho mais velho já é mais alto do que eu. E o mais novo já não gosta de colo. A minha irmã mais velha já chegou aos 40. Já sou mais vezes tratada por senhora do que por menina.
Referiram – se a mim, em pleno Domingo à tarde, enquanto eu e o Dias escolhíamos o primeiro presente de casamento para o Pi, como a sua esposa. Uma senhora que nos diz:
-“O senhor e a sua esposa…”
Desde quando? Desde quando o Dias é visto como um senhor e eu como sua esposa?
- Temos ar de jovens adolescentes! Digo lhe eu. Não temos Dias não temos? Quem esta criatura pensa que é?
E o Dias riu-se.
- Tu serás sempre pequenina Di. Isso é certo.
- E é tão bom ser pequenina, ter pais e avós e ter quem goste de nós.
- Vês?

domingo, 3 de maio de 2009

Férias

FÉRIAS FÉRIAS FÉRIAS.

Porque eu mereço.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Porque este blogue é meu e eu digo aqui o que quiser.

Por vezes não sou enfermeira sou engolidora de sapos. Preciso ser todos os dias a cada minuto, não o que eu quiser mas tudo aquilo que os outros precisam. E depois há os que reconhecem o esforço mas há também e são muitos, os ingratos. Há os que até admitem que exigem demais e os que nunca estão satisfeitos.
Há dias em volto para casa e não sou eu. Sou a frustração. E já nem me apetece mais nada, nem sei bem o que quero ou que faço aqui, tamanho é o meu cansaço.
E faço como de costume. Penso em coisas boas, penso que é só uma fase, que vou voltar a sentir-me realizada no meu trabalho, naquilo que faço. Que vou voltar, se me esforçar muito, a fazê-lo com amor, com paciência, com cuidado. Mas sinto hoje, agora, e mais uma vez, que não me deixam, que me obrigam a ser fraca, má profissional e que isto é um peso que não consigo suportar.
Hoje senti vergonha da enfermeira que me tornei. E eu não tenho mais tempo, nem posso fazer as coisas como a meu ver seriam bem feitas. Eu faço o que me mandam, mesmo que quem mande não pareça saber o que faz. E se me sinto culpada?
Muito.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Descobrimentos, dois anos depois

Vou ao Porto reencontrar o melhor amigo que fiz no Brasil. O intercâmbio termina assim, com a vinda deles a Portugal. Vou ao porto abraçar o Lê e sentir-lhe o cheirinho. Vou levá-lo aos cantinhos mais bonitos da cidade, vamos passear na ribeira, comer croissant na Doce Mar, beber limonada com especiarias no Artes em Partes e finos no Piolho. Vamos conhecer a queima do Porto, o divertimento e a festa que também são muito boas em Portugal. Provavelmente não dançaremos Forró, mas arranja-se um bailarico qualquer. Não teremos muito tempo, mas o tempo que passaremos juntos será certamente bom.
Lembro – me que quando nos despedimos no Brasil, tivemos a certeza que nos reencontraremos um dia. E os anos passaram, mas o dia chegou.

domingo, 26 de abril de 2009

Há coisas piores do que trabalhar ao domingo.
É fazê-lo de ressaca.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Respirar



Eu gosto quando me sinto leve. Quando o meu balão enche e me ajuda a balancear. Sem medo de cair. Não é que eu não tema a dor, mas porque o que vale mesmo a pena é o momento. Esse. Em que estou lá em cima, fecho os olhos e simplesmente me deixo ir.
E voo.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A minha fruta na Primavera




Não me canso de lhes atribuir qualidades, como se as tivesse descoberto agora pela primeira vez. Grandes ou pequenas, tanto faz. Rijas e doces, frescas mas não muito devoro-as sem parar, desejo-as como nunca.
Estou perdida de amor. Uvas, muitas por favor.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

E este blogue volta a ser branco:)

terça-feira, 24 de março de 2009

P.

Muitas vezes, quando perguntava ao P. pela manhã, como se sentia nesse dia, respondia-me com o seu sorriso bem característico, que estava todo bufado. Bufado?
-Sim enfermeira. Tenho bufas, ar, peidos, pus o que quiser. Como quiser. Mesmo que não queira.
Ensinei-lhe uma música do Rui Reininho, que cantávamos os dois quando lhe dava banho de manhã. Do meu nome raramente se lembrava, mas sempre que me via começava a cantar...
“Tu és tudo de A a Z, tu és tudo e o meu lado B….”
Ás vezes só me apercebo como alguns doentes são especiais quando se vão embora, quando chego e as suas camas estão vazias ou ocupadas por outra pessoa. Relembrei o P. hoje. As muitas vezes que me zanguei com ele por se meter em todas as conversas que ouvia, ou fazer piadas com a desgraça alheia. Mas o P. era tão humorístico! Acho que todos os que trabalhamos com ele acabamos por várias gargalhadas soltar, com os pensamentos que ele partilhava instintivamente. Muito inteligente e autêntico.
Mesmo sem nunca imaginar, hoje soube que o P. deixou saudades.
American boy:)

quinta-feira, 19 de março de 2009

Março

Já passei duas vezes na praia.
Já pus os pés no mar.
Já me deitei na areia e fiquei a olhar o céu.

segunda-feira, 16 de março de 2009

N.


Volto a falar do N. porque ele é tão doce que o quero guardar aqui mais uma vez.

O N. tem melhorado muito. Já recuperou o volume da voz, engordou e tem muita mais força do que antes. Já come pela própria mão, já toma banho sozinho, e veste-se quase sem ajuda. É muito carinhoso e interessa-se por todos à sua volta. Pede-me abraços quando me vê chegar e pergunta-me sempre se estou bem. Durante a noite, quando acorda e não consegue voltar a adormecer, pede-me que lhe segure na mão e diz-me que gosta muito de mim.
Não gosta de ver ninguém triste. Defende os mais fraquinhos e faz-lhes festinhas, e faz questão de mostrar que sabe o nome de todos.
Rio – me muito quando acorda a cantar “ aaaaaaaai amoooor ai ai ai ai amooooor é amor”
A educação e a ternura do N. faz com que todos gostem dele. Também á fácil gostar. É fácil cuidar, de quem tanto afecto dedica aos que o rodeiam.
Hoje vejo o N. como exemplo. É tão importante semear amor, no dia a dia, nas situações mais simples. E acredito muito, que quem o fizer é recompensado por isso.

(A Nádia visita o N. algumas vezes, ele aguarda ansioso todas essas visitas, e conta os dias que faltam até ela voltar:))

segunda-feira, 9 de março de 2009

Parabéns para ti*


A tormenta da proximidade dos 30 às vezes impede de sentir a ternura dos 26.
Lembrei-me do “ muitas felicidades cantam as nossas almas”
É isso.
Feliz dia:)

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Dias de Verão

Quando penso no verão e na qualidade de vida que ele me tráz, recordo um dia de praia do ano passado. Um dos primeiros, daqueles em que a praia ainda está quase deserta e se ouve o mar, as gaivotas e a brisa e nada mais.
Fui com a Rita, minha amiga do coração. Estava calor e ela desafiou – me para uma caminhada à beira mar. Ainda passeamos um bocadinho mas a temperatura da água nesse dia estava tão boa mas tão boa que resolvermos ir a nado. E fomos, costa fora, nadamos e nadamos e mergulhamos e rimos. Via-se o fundo do mar e ficamos tempo infinito a recarregar energias, a boiar e a baloiçar nas ondas.
Foi tão bom.
Lembro-me deste dia e desejo com todas a minhas forças poderosas que o verão volte. E que venha para ficar. Porque eu preciso. Sim?
Beijinho Rita tenho sempre saudades de ti*

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

*

Sometimes all I need is the air that I breathe and to love you

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Que fique registado que hoje, depois das chuvas e dos dias escuros, do frio, das lamentações e das tristezas, das dificuldades, do cansaço e das conversas difíceis. Que depois de uma manhã de trabalho com duas horas de sono, dura como todas as outras, eu saí do serviço e estava sol, uma temperatura de primavera e cheirava muito ao Algarve que me recebeu. Hoje as amendoeiras em flor viam-se por todo o lado, rodeadas de brilho. Fico feliz por estas coisas me marcarem tanto, este sentir intenso do que me rodeia, por isto me ajudar a sentir-me calma, a encher o meu coração de amor e a viver em paz.
Fico grata.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Aninhas

Quando decidi criar este blog, fi-lo com a intenção de deixar registado alguns momentos de uma nova fase da minha vida que na altura começava. Momentos dias ou pessoas importantes, situações ou conversas, mas sempre de alguma forma relacionados com a minha vinda do norte para o sul.
Quando se chega a um lugar novo o mais importante de tudo são as pessoas que encontramos e desde logo senti que não podia ter tido melhor sorte. Aqui descobri e ganhei amigos, colegas e até doentes que fui conhecendo melhor e com quem crio laços e afinidades o que me faz sentir tão bem e feliz.


A Ana foi a minha primeira amiga e hoje regressou definitivamente para o norte. Resolvi desta vez, ver apenas o lado positivo desta partida. Tentei convencer o meu coração a manter-se calminho sem grandes dores, que esta coisa de se ver os amigos partir não é mesmo nada fácil quando se cria uma família a quilómetros da nossa.
A Ana foi também a primeira pessoa com quem brindei a chegada de 2009. Lembro-me de te ver comer as passas em sofrimento, e lembro-me de várias vezes nessa noite relembrares o anjinho que concretiza os desejos de ano novo que o teu maior era regressar a Aveiro e ser enfermeira pertinho de casa.
Lembro-me de estares abraçadinha a mim e me dizeres isso. Por isso hoje, quando te abracei deixei-te ir, porque isto de se ser amigo também passa por se respeitar a liberdade e a escolha. E eu não queria que partisses mas quero muito senti-te finalmente feliz e em paz.
Por isso: Voa minha Amiga porque o mundo é grande *

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Ai que nervos!

Quando:
· Acordo muda ainda com pior cara do que nos outros dias
· Ligo o rádio no carro e não sai nada, nem uma palavra dançada sequer
· Trabalho meio que sozinha a querer fugir de qualquer companhia ou conversa seja com quem for
· Choro com os conselhos da minha mãe sobre assaltos a carros com meninas dentro
· Me acho feia feia feia feia feia
· Me nascem borbulhas a cada hora
· Me irrito com o cheiro a sovaco matador dos homens no ginásio a ponto de olhes lançar olhares matadores de quem lhes roga uma praga
· Páro o carro em frente a casa e só quero ficar lá dentro, calada e sozinha
· Não consigo concentrar-me num único pensamento positivo mais de 10 segundos
· Só pode ser a merda do TPM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Odeio-o.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Durante a noite

Quase que é um velhinho querido. Noventa e dois anos. A falta de lucidez ainda podia desculpar, mas não, não lhe falta o juízo.
Este senhor, fisicamente dependente, estava cheio de cocó ontem à noite. Descuidou-se e precisou de ajuda. Duas da manhã. Entro no quarto. Olha para mim sorridente. Enquanto o limpo pede-me que lhe chupe a chucha. Que sou tão boa e era bom comer-me. Ainda levanta a mão e tenta enfiar-ma onde a falta de visão não o engana. Amarro-lhe os braços com força e ralho com ele. É só um velhinho, coitado. Insiste. Olha a minha chucha é boa não é? Língua de fora mão no ar à procura de carne.
Este senhor ontem levou o meu querido colega P. à loucura. Mas o senhor pensa que isto é o quê? Está num hospital veja lá se tem respeito! Não o volto a avisar! E o velhote, com pálpebras vermelhas e caídas lá se desculpava. Mas passar a mão não é falta de respeito! Apalpar é falta de respeito! Oh filha oh filha diz lá que não gostas!
E eu limpava-o. Tinha sono, sono. Não me apetecia discutir com ele. Mandei-o calar-se. Cale-se homem! Esteja quieto! E amarrava-lhe os braços. Olhei para ele e vi o demónio. Velho velho, olhos vermelhos, caídos, desvairado. A língua de fora o riso.
O P. defendia-me. Olhe que não o volto a avisar! E o homem possuído parou.
Ficou limpo. Apagamos a luz e fechamos a porta.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

R.

O R. é agressivo. Maltrata e pontapeia todos os que se aproximam. Hoje durante a noite, devido à medicação que agora toma para se acalmar, dormiu calmamente, quietinho e descasado. Fui-lhe mexendo, alternando as posições no leito, para que os ossos não lhe furem a pele. Está muito magrinho.

Acorda normalmente aos gritos repetitivos e insultuosos. Manda-me à merda mal me vê. Chama-me feia, porca e diz que cheiro mal. Quando pode encolhe e estica a perna com toda a força que tem (e é muita entenda-se) e acerta-me o mais próximo do estômago que consegue. Na semana passada simulou uma festinha na cara e ao aproximar-se cerrou os dentes e acertou-me um pequeno sopapo.

O R. não é mau. É difícil. Mas hoje, o R. acordou calminho. Chamou-me Diana, Oh Diana… o banho sabe – me tão bem… oh Diana a água está tão quentinha, oh Diana… dá-me iogurte… oh Diana fica aqui… Oh Diana…
O R. hoje encheu-me o coração. Não precisei de lhe ralhar, de o corrigir, de o amarrar. Não limpei o iogurte cuspido do meu cabelo, nem fiquei com nenhuma dor.
Assim começa a mudança. E assim me orgulho do meu trabalho. E agradeço.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Domingo, folga.


Com amigos a matar saudades da Praia.

E eu sinto tantas.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

N.

Sabe enfermeira Diana o N. tem uma namorada, que desde a altura do acidente o ajuda muito.
- Ai sim? E como se chama ela N. conta –me!
- Nádia. Mas ela não me ajuda muito.
- Então filho não digas isso! Quando estavas internado em Lisboa ela ia visitar-te todos os dias, tu é que estavas a dormir e não te lembras.
- Pois não.
Eu caladinha. Nunca vi uma Nádia por lá. Afinal de contas o N. tem apenas 18 anos, está bem diferente no N. anterior ao acidente que o deixou assim. A Nádia não terá mais de 17, é uma menina bonita que pousa alegremente na fotografia afixada na parede do quarto do N.
- Eu gostava só dela só dela. Mas ela nunca mais apareceu.
Talvez a Nádia volte a aparecer. Nem que seja só para lhe dar um beijinho. Para ver se ele se anima e come melhor e recupera o peso. E o volume na voz. E força para todos os dias trabalhar arduamente na sua recuperação. E egoistamente desejando, para ver se nós, que tratamos de ti, te vemos sorrir, melhorar, e por isso voltemos para casa com o coração menos apertado por saber que a vida, num momento infeliz foi tão dura e ingrata contigo.
Querido N.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

E lá chegou 2009 :)


Recebi 2009 com amigos, risos beijos abraços e danças. Simples e bom.
Gosto de coisas novas e mudanças, mesmo que pequeninas. Começos dão-me sempre a sensação de que coisas muito boas virão. Chegam a todos os minutos.
 
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