terça-feira, 28 de julho de 2009

A.

A tristeza do Sr. A. deve-se a ter deixado de ver passar a sua sereia. Contou-me na última vez que o fui acordar de manhãzinha. Tinha desfeito a fralda toda com as mãos e havia uma nuvem de algodão à sua volta. Destapado, desoriento e triste. Perguntei-lhe o que tinha.
“Tenho saudades Diana. Saudades de a ver passar… nem o mar consigo ver daqui, mesmo que ela me acene eu não vou conseguir ver. Chamas-te Diana não é? Como a princesa… a que morreu por isso não me esqueci”
O Sr. A. é muito velhinho e eu gosto muito de cuidar de velhinhos, tenho-lhes quase automaticamente um carinho ainda maior. Principalmente quando me contam histórias, algumas da vida outras da imaginação que traduzem a falta da família, da sua casa, das coisas do dia a dia que de repente desaparecem. Talvez não seja muito pertinente da minha parte participar nestas histórias com eles como faço, seria aparentemente mais correcto orientá-los. Mas eu começo com as minhas perguntas e entro na fantasia e sabe-me tão bem… desligar da doença, da dor, da limitação… e alçar a imaginação e rir em vez de chorar, mesmo que seja por uma ilusão, é apenas uma maneira de passarem melhor o tempo, de viver melhor aqueles momentos de sofrimento.
“Oh Diana diz – me lá a verdade… foi ela que te mandou cuidar de mim não foi? A minha sereia...”

3 comentários:

Maria disse...

fiquei com o coração apertado

Bacouca disse...

Querida Di,
Que saudades que eu tinha de ler as suas vivências!!! São sempre tão humanas, tão carinhosas, tão...tão...tão...DI!!!
Um grande beijinho cheio de ternura.

nat disse...

Amo-te muito, minha Didi. Meu orgulho.

 
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