quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

D.

A primeira vez que vi a D. ela estava deitada numa maca, depois de não ter sido aceite na consulta para o internamento. Não falava quase nada e o que dizia era imperceptível. O corpo pesado e flácido. A cara transmitia uma dor imensa, e gemeu muito enquanto lhe mudávamos a fralda.
Meses depois voltou e ficou internada. Lembro-me que ela nos chamava muitas vezes durante a noite e que se queixava muito contorcida de sofrimento enquanto lhe colocávamos a arrastadeira.
Não fazia nada sozinha. Tinha muitas dores nas pernas e nos ombros e mal lhe podíamos tocar. Dizia que o corpo ardia por dentro, e era tão difícil entende-la que já repetia sempre as mesmas frases.
A paralisia dos músculos faciais roubava lhe quase toda a expressão.
Meses e meses se passaram e há uns dias vi a D. a caminhar de andarilho, sozinha. Estava no pátio exterior. Um pezinho de cada vez, linda.
Hoje fui buscá-la ao átrio dos lanches e viemos as duas, a caminhar de mão dada.
Disse-lhe que estava muito feliz e orgulhosa dela. Que era uma felicidade imensa vê-la a caminhar pelo seu próprio pé, erguida outra vez depois de tudo o que passou. Ela respondeu-me que o coração dela nos levaria a todos dentro dele para nunca mais esquecer.
Querida D.

1 comentário:

bacouca disse...

Querida Di,
Por isso é que não deixo nunca de vir aqui! As suas vivências fazem-me pensar que a vida guarda-nos surpresas: umas boas outras piores e que deveriamos estar sempre preparados para elas e reagir pela positiva, tirando a lição que nos é dada.
Um beijo grande minha querida!

 
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