domingo, 11 de outubro de 2009

Aos Domingos

Hoje foi uma tarde de trabalho diferente. Pouco doentes no serviço, vários enfermeiros a trabalhar e por isso sobra tempo. Tempo para dar atenção aquelas coisas que até vemos mas não temos tempo para mudar ou detalhar.
O C. pediu-me mal cheguei para o passar para a maca e levar a “tomar sol”. Quem me dera, leve-me enfermeira…
Hoje levei.
O C. é de cabo verde. Um homem pobre, que deve ter crescido e vivido sempre na mesma aldeia e desde cedo começou a trabalhar. Fez-me diversas perguntas. Se as árvores que nos rodeavam davam frutas, se era sempre verão em Portugal, se eu já tinha comido cachupa, que é tão boa, quanto custava o hospital, se havia lobos na serra e se os via passar.
Falou muito. Deixe-o deliciado e eu própria mais uma vez fiquei a admirar o lugar. Ainda soltei uma gargalhada sincera e boa quando me perguntou: Enfermeira custa um telemóvel muito caríssimo em Portugal?
Falou-me do peixe de cabo verde, de como era a vida dele, e mostrou-se conformado com a nova vida que terá. Não sabe muito do mundo, das coisas nem parece ter noção do tamanho do mesmo.
Transparece uma tranquilidade imensa. Vive deitado entre macas e camas há 4 meses.

3 comentários:

bacouca disse...

Querida Di,
A força que os seus casos aqui relatados me dão...lembrar a importância de "levar a tomar sol"...
Conheçe a Mãe Becas e sabe o nó que ela já tem na garganta...nada mais consigo dizer...somente...bem haja!!!
Mil beijos

Paulo disse...

E apetece-me dizer: doentes, somos nós...

tocante.

lolita disse...

Acho importante que consigas ouvir os doentes, imagino que a vida de hospital (entre macas e camas) seja um pouco melhor quando alguém os ouve.
Bj

 
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