quarta-feira, 16 de julho de 2008

If only I Could

Não tenho jeito para conversas difíceis. Não tenho o dom da palavra nem sei usá-las bem para transmitir o que sinto. Gosto mais de ouvir e do toque, ou então conversas leves, de riso e descontracção.
Acompanhada da minha colega de trabalho e amiga R. fizemos companhia ao P. enquanto ele estava a realizar um tratamento. O bom deste serviço onde ambas trabalhamos, é a possibilidade de nos relacionarmos com os doentes desta forma tão próxima. Tinha tempo para ouvir a sua história mas não foi fácil fazê-lo.
O que dizemos a uma jovem, activo, militar, cheio de amor pela vida, que adora festa e divertimento, cheio de amigos de todos os feitios, cheio de sonhos. O que dizer perante a sua historia?
Num domingo de manhã o P. ia na sua mota. Devagarinho disse-nos ele. À velocidade que um domingo de manhã costuma exigir. Num cruzamento “ela diz que não me viu” e “embati contra o seu carro atravessado de repente no meio da via.”
O P. deixou logo de sentir as pernas, nunca perdeu a consciência e nunca mais voltou a andar.
Foi impressionante para mim ouvi-lo e por diversas vezes tentei controlar-me para não chorar. A conversa foi dura e difícil sem que o tenha sido por um único minuto sequer.
O P. é estranhamente calmo, consciente da sua situação e educado. O P. não tem esperança de ser quem já foi porque sabe que isso não acontecerá. O P. não chora.
Quando o tratamento acabou despediu-se de mim e disse:
- “Temos que conversar mais vezes, mas da próxima vez sobre o Porto”

Down the middle drops one more grain of sand
They say that new life makes losing life easier to understand
Words are kind they help ease the mind, I'll miss my old friend
And though you´ve got go we'll keep a piece of your soul
One goes out, one comes in

You know that I would now
If only I could

(Jack Johnson)

3 comentários:

Anónimo disse...

Quando abri o seu espaço e vi a data exclamei de imediato:Ah! Caraças não era sem tempo!(invaliu-me uma sensação de alegria!).
Depois, pausadamente para bem o "saborear", fui lendo e notei que a certa altura não conseguia ver bem:os olhos estavam cheios de água.
Como eu "escapei" a uma situação idêntica à do P., mas fui preparada para que isso me acontecesse, sinto profundamente essas situações. Mas Di, minha querida,o P. pode ainda fazer coisas bonitas na vida:o que por vezes nos é tirado ao fisico é-nos dado em espiritualidade e força de vontade e até, para quem não passa por elas,maior valor dá à vida.
A "história" dos 2 vasos, que escrevi no meu espaço, "retrata" situações dessas!
O P. vai ter força e a presença da Di terá um valor acrescido porque ele saberá dar e tirar proveito dos momenos e pessoas "bonitas" que a vida lhe vai proporcionar.
Mil beijos da que a adora BACOUCA

Carla Morais disse...

Difícil não chorar...
Gostei muito das palavras da Bacouca.

Maglor disse...

Eu gosto de velocidade, mantêm-me acordado e sinto-me mais concentrado, mas adoro a mota.
Também adoro tocar guitarra, os meus dedos são muito importantes nesse aspecto, mas no meu trabalho também sou obrigado a trabalhar com brocas que me podem sem mais nem menos cortar os dedos...

Não quero com isto dizer que não devemos pensar nisto e naquilo, ou a vida seria incapaz de nos perdoar com muito mais facilidade... haverá um meio termo? Sim.
Mas penso que aí caberá a cada um decidir o seu meio termo...

1 *

 
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