segunda-feira, 26 de maio de 2008

A lua partida ao meio

Olha a lua partida ao meio
de tão baixinha que está
quase leva as copas das árvores
e o cabelo dos homens altos

se eu fosse muito guloso
comia esta lua em forma de queijo

olha a nuvem, a nuvem branca
quer tapar o nosso queijo
nuvem gorda e sem vergonha
invejosa da luz da lua.

tu ja viu que esta noite não tem vento?

olha a lua partida ao meio
se eu pudesse sentava nela
e ficava espiando a terra
e me via olhando ela!
Para ti*
Maria João e Mário Laginha

domingo, 25 de maio de 2008

podia perfeitamente não ter escrito isto

Pus-me a pensar em como é giro deduzir como coisas fundamentais hoje eu nem sabia que existiam antes. É bom poder concluir por o viver na minha pele, que a vida pode mesmo mudar, tomar outro rumo e tornar-se melhor por isso. A nossa casa hoje, o cheiro da vila onde vivo hoje, o meu trabalho de hoje as pessoas… as que surgem e com quem agora vivo o meu dia. Onde estariam elas há um ano atrás? E as que estavam comigo há um ano atrás no Brasil? Onde estão agora?
As que vão e vem. As que vem e ficam. As de sempre. As pessoas vão passando pela minha vida e qual será o critério para que permaneçam? Quais os exactos momentos, se é que existem, que fazem com que alguém que se atravesse no meu caminho acabe por nele seguir comigo?
Também são importantes simples cruzamentos. E não é necessário um caminho, basta uma intercepção.
Só me apetece pensar e não me apetece responder. Talvez eu não saiba a resposta.
Ou melhor, não sei.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Para ser grande, sê inteiro
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive

Ricardo Reis

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Passo a passo, devagarinho mas bem.

Eu gosto de passos pequenos para alcançar metas. Mas isto vai completamente contra a minha falta de paciência para esperar seja pelo que for. Por isso hoje perdida entre pensamentos após a sesta, cheguei a outra conclusão magnífica: A vida gratificou-me mesmo muito quando me permitiu trabalhar em reabilitação.
Há uns dias recebemos um menino de olhos gigantes azuis. Está preso no seu corpo. Desde Sábado que já dirige o olhar quando chamo por ele. Hoje juntei a minha mão à sua e depois de tantos dias de insistência chegou finalmente o momento da resposta, do ganho e de mais um passo gigante para quem acredita que este menino um dia se libertará de si mesmo.
-Aperta a minha mão...anda lá. Tu tens força e eu já estou a sentir. Anda láaaaaaa!!!!!
:)

terça-feira, 13 de maio de 2008

Mãe Zé

Hoje a mãe Zé faz anos:) e eu so lhe consigo enviar muito amor. Imagino que de dentro do meu peito saem corações pequeninos e vermelhos. Voam e caem em cima da mãe Zé em forma de pó mágico, e vejo e sinto o sorriso dela.

Vai uma água de côco?

Tenho tido algum tempo livre. Tempo que me tem feito parar na saudade e recordação. Não gosto de falar muito do passado, mas gosto de me lembrar dos cheiros e sabores como forma de reviver. Ao rever esta foto lembrei-me do sabor da água de côco que comprava a saída do museu de Ipiranga. Suave e fresca.
“Beba água de côco minina…faz bem pra pele”
Como me apetecia uma agora:)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Descobrimentos, um ano depois.


Há um ano atrás parti para o Brasil. A esta hora estava dopada num avião, com o coração apertado e ansioso, sem saber muito bem o que me esperava. Um oceano me separaria da minha vida até então e isso era uma ideia que me agradava muito.
No Brasil à chegada não encontrei calor nem sol. Chovia muito, S. Paulo era muito cinzento tudo era longe de tudo e o trânsito caótico. O que esta experiência modificou em mim traduz-se numa visão só: o Brasil deu-me luz e transformou-me numa pessoa melhor. O quentinho fui encontrando nas pessoas, cuja humanidade e carinho para com todos é algo que nunca tinha visto. No Brasil perdi a conta dos abraços diários. Apertadinhos, sentidos numa troca de energias corpo a corpo. Encontrei miséria extrema em favelas onde trabalhei e encontrei nas pessoas miseráveis sorrisos que me marcaram para a vida. Peguei nas crianças abandonadas ao colo enchia-as de beijos, chorei quando me chamavam querendo mais. No Brasil dancei Forró. Com dois passinhos para lá dois para cá. A música entra no corpo e só se pára com a madruga. Fiz amigos que não esqueço. Pessoas que me acolheram desde o primeiro instante me deram a mão e me mostraram como se pode ser feliz com tão pouco.
Nunca senti medo. Saía de casa sem nada e bom mesmo era quando havia sol… havaiana no pé é alegria.
Quando o balão cresceu pela primeira vez! Lembro-me perfeitamente. Estava num centro de saúde muito pobre. Pessoas nos corredores. Velhinhos, crianças mães. Olhei para as paredes despidas do tempo. E o balão dentro de mim começou a agigantar. Lembro me de pensar: o que sinto agora é felicidade pura. Encontrei o meu caminho, o terreno onde sinto que todo o amor que tenho para dar é tão bem recebido e necessário. Imaginei – me com a Nat a pintar paredes do centro de saúde, a deixá-lo mais bonito. Imaginei que nunca mais sairia dali, que me empenharia nesta missão pessoal de tentar deixar o mundo melhor do que o encontro. Não sei exactamente como me libertei da pessoa que era até então. Não que me sentisse mal comigo própria mas porque havia tanto por limar em mim.
Um dia tive que partir. Despedi-me de todos com a alegria de sempre. Promessas feitas de um reencontro quando a vida o permitisse. “ O qui importa mesmo Dgi é sê Féliz!" É:) O que importa mesmo mesmo é um dia ter tido esta oportunidade tão maravilhosa. Que me abençoou tanto e pela qual agradeço muito.
Sim, os descobrimentos de 1500 foram outros. E os meus são meus para sempre.
Aos meus queridos amigos Lê, Leo e Camila, com muito amor.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Sagrado

Na minha terra canta-se ao desafio.
“ Sou do Minho! Sou do Minho! de Viana natural quem não conhece Viana não conhece Portugal!”
A lista dos cantinhos portugueses a conhecer, para se dar o real valor ao nosso país, cresceu muito ultimamente:) Quem não conhece Sagres também não conhece Portugal. Eu nunca tinha visto o atlântico tão imenso como ontem. Nem uma névoa tão sinistra a cobrir o mar, a esconder o horizonte. E o vento também nunca me tinha cantado assim.
Cada passo uma descoberta:)
O cenário é de filme. Não seria nunca capaz de o descrever justamente. Posso tentar dizendo que conseguimos entrar mar adentro. A falésia é escarpada (e assustadora para quem tem pavor de alturas), o ar é húmido mas a paisagem é sagradamente inesquecível. Trouxe a imagem do pôr-do-sol gravada nos meus olhos, prometendo não esquecer.
Sou do Minho mas Algarvia me torno.. .cada vez mais:)

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Noites seguidas.

A viver ao contrário, é assim que me sinto. Trabalhar rir e comer à noite. Dormir até ao sol já estar posto. Com tantas noites seguidas tenho descoberto algumas características minhas. Descoberto como quem diz, porque já as conheço há muito tempo, mas durante a noite estão aumentadas. Há doentes que me reconhecem antes de abrirem os olhos quando vou ao encontro deles durante a noite. Reconhecem-me o toque. Tenho sempre as mãos frias, geladas. E apesar de ser noite dizem-me sempre qualquer coisa. Alguns trazem carinho na voz mas outros ficam realmente aborrecidos e fazem questão de dize-lo. Como os compreendo! Não há coisa que tolere menos do que o frio. Não suporto simplesmente. Estar a dormir descansadamente e receber, mesmo que ao de leve um toque gelado de alguém que nos quer ajudar a mudar de posição (como se já não bastasse ter de acordar, ser destapado, sentir algumas dores ao ser mobilizado, e ter de voltar a adormecer) não deve ser fácil de tolerar. Por isso peço desculpa. Não tento remediar a situação. Passo a vida com as mãos debaixo de água e sabão por isso, mesmo que as mantenha activas nunca estão quentes. Peço desculpa e tento não falar muito. Ser rápida, eficaz e continuar.
Ontem terminei a ronda das 4h na D. A. Uma senhora de 70 e alguns anos de quem gosto muito. Sempre que acorda fala como se nunca tivesse estado a dormir. Tem sempre coisas a dizer e embora chore muito por saudades do seu marido, a nós trata-nos sempre com muito amor e agradecimento.
- oh meu amor meu amor. Quem és tu? A minha cabeça a minha cabeça. Não me lembro dos nomes, já não me lembro dos nomes. A minha memória. Tenho saudades do meu marido, queria o meu marido. Já fiz na cama? Que horas são? Ai a minha cabeça, que não se lembra de nada.
Pára quando sente que a toco.
-Que mãos frias! Ai que mãos frias!
Desculpe D. A, tenho sempre as mãos frias não é? Vamos lá tratar disto rápido para dormir depressa.
- Não faz mal. Eu também tenho as mãos frias. Quando tiveres a minha idade e for eu a tratar de ti também as vais sentir e não vais ficar zangada. Pois não?
Prometo que não:)
 
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