sábado, 30 de julho de 2011

É isso.

Reajo a esse incomodo olhar
Nem quero acreditar
Que vem na minha direção
Há dias que estou a reparar
Nem queres disfarçar
Roubas a minha atenção
Aprecio o teu dom de tornar
Num clique o meu falar
Numa total confusão
Confesso que só de imaginar
Que te vou encontrar
Me sobe à boca o coração

É certo que sempre ouvi dizer
Que do querer ao fazer
Vai um enorme esticão
Mas haverá quem possa negar
Que querer é poder
E o nunca é uma invenção

Bem sei que este nosso cruzar
Pode até nem passar
De um capricho sem valor
Mas porque raio hei-de evitar
Se esse teu ar
Me trouxe ao sangue calor

E falas de ti
E Falas do tempo
Prolongas o momento
De um simples cumprimentar
Falas do dia
Falas da noite
Nem sei que responda
Perdida no teu olhar

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Os meus doentes

Demência, é o seu diagnóstico e quando se trata de doenças mentais é sempre tudo muito difícil, porque nunca sei como alcançá-los, como captar a sua atenção, ou como os impedir de me darem uma galheta.


Disse-me para não me esquecer nunca do nosso trato secreto, porque combinamos trocar isto por aquilo. Na minha mão direita contou oito dedos e quando contou os da esquerda, começou… dois, quatro, seis, oito… 20, tens 20 dedos.
Falei-lhe do apelido que temos em comum, leu o nome na minha identificação e lançou-me um ar muito sério. Depois parou, olhou para mim (medo) e disse que ficava contente por sermos bons vizinhos.
Não consegue dizer nada com nexo, não se lembra do nome da mulher nem do filho, arranca cateteres com dentes e fica imobilizado na cama, preso pela cintura e braços (detesto fazer-lhes isto) para que pelo menos durma sossegado, sem saltar grades, ou arrancar algálias.
Ás vezes sorri-me quando lhe falo de comida, mas diz que não tem apetite. Quando insisto com ele para que coma tudo até ao fim, grita-me para que pare, e pare já! Hoje caminhou comigo de mão dada (que ficou roxa) pelo corredor, falou e falou. Não sabe em que ano estamos, não sabe que dia é hoje, nem se é inverno ou verão. Não sabe onde está, nem porque está ali. Nem sabe quem é, como se chama, se voltará a ser livre.
Não sei o que lhe aconteceu até ficar assim, até chegar a este ponto de completa ausência existencial. Não é violento, ou pelo menos não o foi até ao momento, mas tem aquele olhar fixo, perdido, descontrolado, como se nada fizesse sentido e já nada lhe importasse.
A esta hora já deve ter levado uma injecção para dormir, todas as noites a mesma coisa, sem ela fica muito agitado e aflito. A noite torna tudo ainda mais assustador, o escuro, o silêncio. Por volta das 5h vai acordar, não grita, mas tentará levantar-se a todo o custo, lutando contra o seu próprio corpo, e às 7h fará mais medicação para se acalmar. Todos os dias, um atrás do outro, até que as melhoras cheguem, ou pelo menos o tragam um pouco mais para o mundo.
Eu não consigo não pensar nele. Amanhã quando chegar, vamos passear novamente pelo corredor, no fundo desejo muito encontr
a-lo melhor, mais lúcido. Mas é apenas esperança, ela existe, mas é pequenina e frágil. Talvez a nossa lucidez o seja também.



terça-feira, 26 de julho de 2011

Das melhores noticias dos últimos dias, vem aí um bebé:)

domingo, 24 de julho de 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Quando voltar não significa dar um passo atrás:

Estive muito tempo à espera de voltar a sentir-me bem. Tanto, que cheguei a duvidar se voltaria a ter vontade de sair da cama para viver a vida lá fora. Senti-me sufocada e por isso parti, com muito pouco, sem grande expectativa, sabendo apenas que à partida pior não poderia ficar.

Decidi regressar quase de um dia para o outro, achando-me um pouco esquizofrénica mas sem me preocupara muito com isso. Nem com isso nem com nada de muito específico. Queria apenas arranjar um trabalho aqui, debaixo do sol, voltar a cuidar dos outros com amor e realização.

Quando cheguei, mal saí do avião deixei-me evadir pelo cheiro da terra quente, da maresia, desta terra que adoro e onde me sinto tão bem outra vez. E com isto voltei a ter fé, voltei a ter esperança de que, de alguma maneira, o caminho agora ia ser diferente e senti-me finalmente preparada para recomeçar. E tudo se foi compondo, correndo bem, com boas noticias umas atrás das outras.

Hoje acordo feliz, respiro o ar quente da manhã feliz, entro no carro feliz, vou trabalhar feliz, vou à praia feliz e sinto, quando o dia começa a terminar, que este bem-estar e tranquilidade que me evadiram continuarão amanhã.

Partir não foi a solução, mas ajudou-me a compreender que há coisas que realmente me definem como pessoa e sem as quais não sei viver. Eu voltei, voltei de lá e voltei a mim. E desta vez espero ficar por muito tempo, e desejo profundamente que este novo ciclo de vida continue a cada dia repleto desta leveza, deste sorriso fácil e deste coração cheio.

domingo, 17 de julho de 2011

terça-feira, 12 de julho de 2011

Começo a preferir as insónias aos sonhos.
 
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