domingo, 18 de março de 2012

Saí do serviço mais tarde do que o necessário, estive a conversar com a colega que me veio render. Não somos amigas, nem cúmplices,  deixei-me ficar a ouvi-la porque a senti a sufocar. Senti-lhe os entraves, as amarras, as escolhas momentaneamente felizes mas terrivelmente mal feitas. Senti-lhe a saturação, quase que lhe ouvi o fervilhar do cérebro, que lhe exige mais e mais a cada dia e que ela teima em alimentar com  livros que devora como eu nunca vi. Senti-a presa, confusa, incapaz de desistir dos sonhos e incapaz de sem medos realiza-los, realizar-se.
Ouvi-a, falamos, ela chorou e acabou por se rir muito também. Falei -lhe da minha vida em londres, do dia em que, a lavar o chão do Starbucks com uma esfregona de 50cm, aceitei a minha vida como ela era. Não  tentei compreender tudo, tudo o que me aconteceu naquele ano, todas as escolhas, fracassos, todos os acontecimentos terríveis e os aceitei simplesmente.
 Ela acha que eu sou irremediavelmente feliz, quase louca, incrivelmente livre. Eu expliquei-lhe que não é bem assim. Disse-me que em mim não se vêem amarras, nem se sentem impossíveis. Eu disse-lhe que talvez isso não fosse tão bom como pode parecer. Sou sonhadora, pés no céu  e este meu amor pela liberdade tem sempre um preço que nem toda a gente está disposta a pagar. Eu não me conformo com o razoável, como o … não é bem isto mas vá, chega. Posso até nem voar tão alto como aparento, mas não paro nunca, nunca de sonhar.
Abracei-a, ela gelou.
Quando cheguei cá fora e ia a caminho do carro, o cheio do mar condensado fez me sorrir. O verão já se sente chegar. Senti-me feliz. Enchi o peito vezes sem conta desta felicidade tão simples, tão boa, tão pura. Sou como um palhaço pobre. Preciso de tão pouco para sair da toca, encher-me de vida e acreditar outra vez.
Amanhã caminharemos juntas junto ao mar. Vamos a ver se a energia lhe volta ao sangue e ela acredita também.

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