quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Fim da tarde - Tiago Bettencourt&Mantha

Como foi que abriram a porta?
Como foi que entraram sem ligar
os dois a vaguear no espaço limpo o espaço cedo sem
ninguém para pensar?
Como foi que as flores cresceram?
Como foi que o jardim se fez mulher para esquecer que
à volta tudo à volta faz tremer?
Como foi que de dentro do mundo fugiram para longe?
Quando foi que pensaram voltar?
Quando foi que adormeceram ao fim da tarde junto ao
mar?

Quando foi que trancaram o rumo?
Quando foi que saíram sem ligar
os dois? inventaram que incerteza era razão para não
ficar.

Como foi que tiraram da pele pó?
Como foi que despiram o espaço nu?
os dois? Desviando o veneno inventaram um tempo e do
medo fez-se luz
Como foi que o riso nasceu e o escudo cedeu?
Quando foi que tentaram sair um do outro com tão pouco
peso por cumprir?
Quando foi que o tiro furou? quando foi que deixaram
de respirar?
Quando foi que adormeceram ao fim da tarde junto ao
mar...?

Quando foi que trancaram o rumo?
Quando foi que saíam sem ligar
os dois? Inventaram que a incerteza era razão para não
ficar.

...dois ramos novos a nascer
Dois ramos juntos sobre a luz
dois tempos frágeis para compor
um dia solto de dizer:

"tu aqui
é bom para mim.
E tu aqui
é bom"

Como foi que largaram o peso?
Quando foi que deixaram flutuar?
Os dois encontraram na incerteza razão para reparar
que tu aqui é bom para mim

Ninguém quer saber
Há medo de rir
Ninguém quer ceder para ser quem restou
Ninguém vai olhar para ser quem amou
E eu aqui é bom para mim
E eu aqui é bom para ti.

2 comentários:

Peter Pan disse...

Numa história bonita como esta, este deveria ter sido o final:
"...dois ramos novos a nascer
Dois ramos juntos sobre a luz
dois tempos frágeis para compor
um dia solto de dizer:

"tu aqui
é bom para mim.
E tu aqui
é bom".

Talvez Sérgio Godinho tenha razão:

"A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"

Um beijo *

Bacouca disse...

Querida Di,
Achei lindo esse poema "Fim de tarde".
Com poemas e músicas a minha querida faz sempre umas óptimas escolhas!
Beijo
Mãe Becas

 
Site Meter