domingo, 12 de setembro de 2010

R.

Todas os dias quando chego perto dele encontro-o com um sorriso nos lábios. Esforça-se muito por falar e eu também só desisto quando tenho a certeza que descobri o que ele precisava.
Tenho por ele uma admiração enorme. Não só pela forma como reagiu ao mal que lhe aconteceu, pela dedicação, pela tolerância à dor, pelo empenho, mas por continuar a querer viver.
Não há quase nada que ele possa fazer sozinho. Pode sorrir e pode comunicar. Falar só com muito esforço porque as sílabas ainda não tem o mesmo som de antes. Vê muito pouco e ouve muito pouco. Mas sorri sempre.
A noite passada tocou à campainha muitas vezes… não havia forma de ficar confortável. O corpo pesa-lhe e dói. Dói muito diz-me ele. Mas quando acendo a luz encontro um sorriso enorme, como se ele não fosse um homem, mas um anjo que lutou pela vida, mesmo que, para muitos de nós, a vida que lhe restou não pareça fazer qualquer sentido. Ele enche o meu coração. Sinto-me uma fada que pode dar-lhe alguma paz, carinho, coragem e força. Cuido dele com toda a dedicação porque o merece, e porque inevitavelmente ele cuida de mim também. Ele devolveu-me a esperança, como se a cada alívio e bem-estar que lhe proporciono me lembre que afinal, apesar de todas as desilusões, o meu caminho era mesmo este.
Quando apaguei a luz e fui ver o doente da cama ao lado comecei a ouvi-lo.
“Iiiiiiiiaana! Iiiiiaaaana!”
Voltei a trás liguei a luz e mais uma vez o sorriso…
“ooo biii gaaa dooooo”

3 comentários:

Carla Morais disse...

:'-)

Anis disse...

Por aqui neste cantinho encontro sempre uma lição de vida! Gosto de ler a homenagem que fazes sempre que um doente te "marca" e do carinho com que escreves sempre! Beijinhos

Stª Santos disse...

vou fik visitando viu? Gosto qdo um texto me desliga,me transporta...bjo!

 
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