quarta-feira, 24 de agosto de 2011



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

***Alzira***

Quando cheguei perto dela ainda estava quente. Mas pediram-me que fosse eu a prepará-la. Estremeci. Ainda não sei lidar com a morte, mesmo que seja de uma velhinha que teve a mão do marido junto à dela até aos últimos minutos. Pedi-lhe que saísse por uns momentos e ele em lágrimas atendeu ao meu pedido.

Falei com ela, pedi-lhe licença para a despir, para a lavar. Uni-lhe as mãos e os pés e senti-a arrefecer. A ela e ao meu coração. Sabia que o pior ainda estava para vir, já tinha visto o saco branco na mesinha de cabeceira. O meu estômago embrulhou-se, mil imagens surgiram na minha cabeça, os sentimentos todos revirados, a minha falta de concentração, um murro no estômago sem alívio, uma náusea que me invade o corpo.

Fiz tudo direitinho, como gostaria que o fizessem a mim e aos meus, quando o nosso momento chegar. Respeitar a morte, o corpo, a alma. Imaginei que ela própria já não estaria no seu corpo, mas em cima de nós a sorrir e em paz. O saco branco na mesinha de cabeceira continuava a dar-me vómitos. Virei-me para a janela, vi o sol lá fora já a pôr-se. Pensei na vida, na morte, que ela faz parte e dá-lhe sentido. Respirei. Voltei a olhar para o saco, chamei por ajuda e ganhei coragem para o momento. Em meu socorro veio a L. que não faz ideia do que aquele momento significava para mim, de como estava a ser insuportavelmente difícil e doloroso. Ela chegou. Ela abriu o saco branco e as duas conseguimos pô-la lá dentro.

O meu coração gelou. Fiz-lhe festinhas, disse-lhe que agora ira voar já longe de todas as dores. Disse-lhe que não a ia fechar lá dentro mas sim tapá-la com um lençol branco até aos ombros e chamar o seu amor para perto dela.

Ele entrou em soluços e abraçou-se a mim a chorar perdidamente. Disse-me que doía muito e eu disse-lhe que sabia. Não fui capaz de dizer que ia passar, porque acredito que não passe nunca. Não disse nada mas abracei-o com força. Segurei-lhe numa mão, enquanto ele se aproximou para a ver. Pediu-me que ficasse. Eu fiquei, a minha mão na mão dele, a mão dele na mão dela. Os três.

Sei que devemos aceitar o que se sente. A dor, a felicidade, a alegria, o medo. Sei que cada coisa tem que ter o seu espaço e o seu tempo. Respirei. Ele chorava eu era gelo.

Abracei-o. E disse-lhe que ia sair.

Á saída do hospital, ainda tive tempo para sorrir ao F. na recepção desejar-lhe uma boa noite de trabalho e um até amanhã. Corri para o carro. Finalmente o pano pode cair e chorei. Chorei e choro. Liguei o rádio até casa, ouvi o mundo a seguir em frente, pensei que eu estava a seguir em frente, que os minutos não param, que isto é a vida, um minuto atrás do outro até ao momento em o nosso tempo termina. Isto é viver e isto é morrer também. Convenci-me que a morte não pode ser a escuridão que aparenta, que faz parte mesmo que ainda não faça sentido, que o momento de hoje se irá repetir muitas mais vezes até ao dia que já não custe tanto.

Tenho a certeza que o cheiro do saco me ficará entranhado. Mas tudo o que me passou pelos sentidos será certamente atenuado com o tempo. O tempo não cura tudo mas ajuda-nos a compreender muitas coisas e a custo, muito custo ajuda-nos a saber aceitá-las. Quando a revolta passar. Os porquês passarem. Mesmo que um dia voltem todos, num segundo, com toda a força a serem sentidos. Como hoje.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Bons sonhos


Esta noite estive num espectáculo do Bob Marley e quando acabava o Pi dizia-me:

Bora, agora vamos ver os Sublime!


quinta-feira, 11 de agosto de 2011



sábado, 6 de agosto de 2011

Hoje há farra.
Amanhã há folga.
Adoro o verão. Amo.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

As minhas doentes e os seus poderes

Tratei dela nos últimos dois dias, uma velhinha linda que sentada não chegava com os pés ao chão.

Ontem à noite perguntou-me pelo meu marido e eu disse-lhe que não tinha (já a adivinhar a lamentação), então perguntou-me pelo namorado, e eu disse-lhe que estava muito longe. Está na tropa? Não me digas que foi para a guerra?

Saltou da cadeira e muito despachada foi buscar-me um presente.

Dá me a tua mão minha filha e reza comigo à minha santinha:

Ó Senhora do Perpétuo Socorro, mostrai-nos que sois verdadeiramente nossa Mãe obtendo-me o seguinte benefício: (faz-se o pedido) e a graça de usar dela para a glória de Deus e a salvação de minha alma.
Ó glorioso Santo Afonso que por vossa confiança na bem-aventurada Virgem conseguistes tantos favores e tão perfeitamente provaste, em vossos admiráveis escritos, que todas as graças nos vêm de Deus pela intercessão de Maria, alcançai-me a mais terna confiança para com nossa Mãe do Perpétuo Socorro e rogai-lhe, com instância, me conceda o favor que reclamo de seu poder e bondade maternal.
Eterno Pai, em nome de Jesus e pela intercessão de nossa Mãe do Perpétuo Socorro e de Santo Afonso, peço-vos me atendais para vossa glória e bem da minha alma. Amém.
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, rogai por nós.

(Rezar, durante nove dias, nove Ave-Marias e, no final, a oração acima.)

Agradeci-lhe. E ela olhou-me nos olhos com as duas mãos na minha cara e disse-me

- Minha filha, ele vai voltar.

 
Site Meter