terça-feira, 5 de março de 2013

M.

Esta última noite não o prendi. Se há coisa que me custa é amarrar braços e pernas a grades de camas de hospital, imobilizar mesmo que seja para proteger revolta-me imenso. A agitação que eles atingem obriga-nos a isso muitas vezes, mas não o faço nem nunca o fiz de ânimo leve. Nesta última noite deixei-o livre e sem amarras, sabendo que isso me obrigaria a uma vigilância muito mais exigente e paciente também. Chamou-me muitas vezes. “Rosa Maria!” “Rosa Maria!” onde andas mulher? Explico. Está no hospital, sou a enfermeira, não grite, use a campainha.
Velhinhos desorientados são como crianças com medo do escuro, utilizam todas as desculpas para prolongar a companhia, pedem para ir à casa de banho, tem dores que esquecem com a conversa, dão golinhos mínimos de água, querem ajuda para tudo, parecem ter toda a energia para querer fazer o que nem tentam durante o dia, querem falar.

Da última vez que me chamou, não gritou. Começou baixinho… Enfermeira, enfermeira…….enfermeira. Cheguei ao quarto, liguei a luz de presença, exausta, esperou que estivesse bem pertinho e disse “olá eu sou o Manuel”.


 
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