Esta última noite não o prendi. Se há coisa que me custa é
amarrar braços e pernas a grades de camas de hospital, imobilizar mesmo que
seja para proteger revolta-me imenso. A agitação que eles atingem obriga-nos a
isso muitas vezes, mas não o faço nem nunca o fiz de ânimo leve. Nesta última
noite deixei-o livre e sem amarras, sabendo que isso me obrigaria a uma vigilância
muito mais exigente e paciente também. Chamou-me muitas vezes. “Rosa Maria!” “Rosa Maria!” onde andas
mulher? Explico. Está no hospital, sou a enfermeira, não grite, use a
campainha.
Velhinhos desorientados são como crianças com medo do escuro,
utilizam todas as desculpas para prolongar a companhia, pedem para ir à casa de
banho, tem dores que esquecem com a conversa, dão golinhos mínimos de água,
querem ajuda para tudo, parecem ter toda a energia para querer fazer o que nem
tentam durante o dia, querem falar.
Da última vez que me chamou, não gritou. Começou baixinho… Enfermeira, enfermeira…….enfermeira. Cheguei
ao quarto, liguei a luz de presença, exausta, esperou que estivesse bem
pertinho e disse “olá eu sou o Manuel”.
1 comentário:
:')
Enviar um comentário