No primeiro dia postou um olhar sério para o piercing no meu nariz. Quando lhe perguntei se me deixaria assistir a uma aula sua de piercing, abanou a cabeça com ar de reprovação, Depois, soltou um sorriso maroto e cativou-me para sempre. Noventa e dois anos de uma vida activa muito para além do seu tempo. Investigador, médico, professor, pai. Um senhor. Um médico com uma gratidão e respeito imenso pelos enfermeiros que cuidavam dele.
Lutou com todas as forças nos últimos dias por se manter vivo, Não queria partir, Falava com uma exaustão atroz, uns pulmões no limite do esforço, Falava sem fôlego entre a respiração sôfrega e a determinação de se fazer ouvir. Não desistia sem que o compreendessem, e eu não desistia de o compreender. Sorria muitas vezes. Beijava-me a mão quando juntos conseguia-mos descobrir o que lhe estava a fazer falta, onde estava a doer, como estavam as ultimas análises ou a imagem do Rx.
Hoje quando cheguei ouvi a sua filha chorar. Estava de joelhos no chão de mão dada com o pai. Dizia-lhe baixinho "esperaste pelos raios de sol para partir"
2 comentários:
Querida Di: parece-me um pequeno óasis do seu dia a dia e da sua ternura por um doente que lhe disse muito e sobre quem escreve este belo texto. Já tinha saudades desse seu lado.
Tadoro
Emocionas-me.
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