Acordei de manhã muito cedinho, antes das 7h. Senti um entusiasmo como já não me lembrava de sentir, estava ensopada em suor, os lençóis, o cabelo molhado, que calor era este?
A minha Fani, querida francesa com quem dividia casa, ofereceu-me um café solúvel que me soube a mel. Estava feliz.
Subimos juntas a colina que nos levava de volta ao orfanato, falamos muito e eu não senti qualquer dificuldade em expressar-me, a Fani era maravilhosa a descobrir o que os meus olhos diziam e a minha boca não falava. Ficamos amigas em segundos.
Este dia foi tão intenso. As crianças estavam de férias e tínhamos combinado um dia no rio e um fim de tarde no mercado. Quando me viram entrar no portão começaram a correr na minha direcção, abraçaram-me e deixei me cair ao chão para que nos abraçássemos todos juntos. O meu coração estava uma lua cheia, brilhante e repleto de amor. Eu senti-me tão protegida e amada, respirei finalmente de alivio, senti que tinha feito a escolha certa.
Fomos de carrinha de caixa aberta pela mata fora, estava responsável pelas mais de 30 crianças que estavam na lista dos escolhidos para ir ao rio. Tentava desesperadamente ampará-los a todos quando os solavancos na carrinha os fazia vibrar de alegria, depois simplesmente respeitei a liberdade a que estavam habituados. Senti que muito tinha a aprender com aquelas crianças. Tão pequeninas, tão independentes, tão valentes e aventureiras, tão resistentes às adversidades.
Nadámos vestidos no rio, a frescura da água e os mergulhos sem fim. As gargalhadas, as brincadeiras, o colinho tão bom.
Estava no sitio certo, era exactamente aquilo que eu procurava. Amor, puro amor. Estava ali à minha frente, um desafio, um cuidar desmedido e nada pretensioso,
Estavam ali comigo 30 crianças sem pai, sem mãe. E eu só as queria a todas para mim.
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