sábado, 22 de agosto de 2015


Esta menina escolheu-te, disseram-me todos. A nossa ligação foi imediata e dei por mim a pensar em todas as formas de a trazer comigo, mesmo que isso significasse ficar por uma longa temporada na Tailândia. Ela corria para mim, pedia-me colo, adormecia nas minhas pernas, enchia-me de beijos. Não precisamos de falar a mesma língua para termos brincadeiras sem fim. 
Desde cedo fui advertida para ser cautelosa, podíamos ambas sofrer no dia de nos separarmos, mas quem diz isso a um coração apaixonado? quem o convence? Nem no dia em que lhe disse adeus acreditei que era para sempre. Ainda hoje penso nela, todos os dias penso nela, na maneira perfeita como encaixava no meu colinho, na maneira perfeita que me fez perceber que seria capaz de a amar como filha mesmo que não tenha nascido de mim.
Esta criança especial, maravilhosa, perfeita e cheia de potencial mudou a minha vida. Fez-me deixar de ter medo de um dia não ser mãe. Fez-me ter a certeza absoluta que serei. Porque mesmo que, por algum motivo não nasçam do meu corpo, aos meus filhos o meu coração é sem duvida capaz de amar sem restrições. Sem nacionalidades, sem limites.
Fará parte de mim.

sábado, 15 de agosto de 2015

Sangkhlaburi



Acordei de manhã muito cedinho, antes das 7h. Senti um entusiasmo como já não me lembrava de sentir, estava ensopada em suor, os lençóis, o cabelo molhado, que calor era este?

A minha Fani, querida francesa com quem dividia casa, ofereceu-me um café solúvel que me soube a mel. Estava feliz.
Subimos juntas a colina que nos levava de volta ao orfanato, falamos muito e eu não senti qualquer dificuldade em expressar-me, a Fani era maravilhosa a descobrir o que os meus olhos diziam e a minha boca não falava. Ficamos amigas em segundos.

Este dia foi tão intenso. As crianças estavam de férias e tínhamos combinado um dia no rio e um fim de tarde no mercado. Quando me viram entrar no portão começaram a correr na minha direcção, abraçaram-me e deixei me cair ao chão para que nos abraçássemos todos juntos. O meu coração estava uma lua cheia, brilhante e repleto de amor. Eu senti-me tão protegida e amada, respirei finalmente de alivio, senti que tinha feito a escolha certa.
Fomos de carrinha de caixa aberta pela mata fora, estava responsável pelas mais de 30 crianças que estavam na lista dos escolhidos para ir ao rio. Tentava desesperadamente ampará-los a todos quando os solavancos na carrinha os fazia vibrar de alegria, depois simplesmente respeitei a liberdade a que estavam habituados. Senti que muito tinha a aprender com aquelas crianças. Tão pequeninas, tão independentes, tão valentes e aventureiras, tão resistentes às adversidades.
Nadámos vestidos no rio, a frescura da água e os mergulhos sem fim. As gargalhadas, as brincadeiras, o colinho tão bom. 
Estava no sitio certo, era exactamente aquilo que eu procurava. Amor, puro amor. Estava ali à minha frente, um desafio, um cuidar desmedido e nada pretensioso,  
Estavam ali comigo 30 crianças sem pai, sem mãe. E eu só as queria a todas para mim. 
 
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