Ontem preparei-o para ir ao bloco operatório e conversamos muito, sobre a minha terra e a dele. De Vila Real de Sto António a Viana do Castelo, passando por França onde trabalhou durante 30 anos. Ele é daqueles velhinhos que ainda traz o maço de notas de 100 enrolados num elástico, os olhos são risonhos, barba branquinha e é um gabarolas. Fala orgulhosamente da barriga grande, afirmando ser o resultado de muitos anos de investimento.
Só hoje ao fim do dia voltou ao internamento, algumas complicações pós-operatórias fizeram-no passar a noite na unidade de cuidados intensivos. Mal me viu chamou-me amiga, deu-me a mão e ficou a sorrir.
-Então Sr. H. ainda se lembra do meu nome?
- Claro! Rosa Maria minha amiga de ontem! onde andaste magana?
- Diana Sr. H. Sou a Diana. Se precisar de me chamar toque na campainha que eu venho ter consigo.
Cuidei dele, sempre conversador, sempre a sorrir. Estas pessoas simples e bem dispostas devolvem-me a alegria no meu trabalho, fazem com que tudo seja feito com gosto, com mais vontade. E a pronuncia dele fazia.me rir a cada frase. Pouco depois chamou. Estava a tentar beber água do balão de oxigénio. Orientei-o, estava só um pouco confuso, tinha sede, aquilo era água não percebeu o impedimento.
-Diga lá o meu nome Sr. H, lembra-se?
Sorriu com a cara toda, parou. Tentou disfarçar o esquecimento, depois agarrou-me na mão e começou a pensar.
- Chamo-me Di..Di...?
- Digo-te logo!
Gargalhei, disse-lhe que me apetecia ficar só a cuidar dele, que era tão bom rir-mo-nos tanto juntos, quem me dera só cuidar de pessoas boas, simples e sorridentes. De repente começo a ouvi-lo no corredor.
- Póvoa do Varzim! Anda Cá! Ajuda-me que tenho sede!
;) foram 16 horas seguidinhas, mas vim feliz. Era capaz de fazer isto, se fosse sempre assim compensador a vida toda.
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