segunda-feira, 30 de abril de 2012

C

Tenho uma doente maluca. A senhora até tem motivos para esta psicose mas é de um negativismo, um dramatismo, uma coisa inacreditável. Vive no escuro. Quarto escuro, roupa escura, chá preto. Não se ri, não tem expressão. Tudo tem que ser à hora exacta, se não, não para de se repetir.
Sempre que lhe faço perguntas responde-me com as suas dores. Que vai deixar de andar devido à pele descamativa que tem nos pés (já foi vista por 5!!!dermatologistas diferentes. Não tem nada mas não desiste e quer mais um!). Que tem dores insuportáveis nos joelhos, que um dia a vão impedir de andar. Que eu é que tenho sorte que ainda ando tão bem… e tenho saúde… ela não, ela sofre mais do que ninguém, tem mais dores do que qualquer outra pessoa no mundo, as coisas que lhe aconteceram… ai as coisas que lhe aconteceram! Os problemas que tem.. .o pânico que sente ao acordar? Um dia enfarta. Um dia deixa de andar porque o coração lhe pára.

Hoje, fui-lhe mandando mensagens escritas ao longo do dia. No tabuleiro do pequeno-almoço escrevi… “o céu está tão bonito, vamos vê-lo juntas?” não ligou. Escondi-lhe outro no meio da roupa preta… “ se eu fosse cor-de-rosa tudo era diferente”… não me disse nada. Até que se levantou… e deu de caras com um espelho na casa de banho, cheio de corações e sorrisos e onde se lia:

Que bonita que estou hoje… pareço um raio de sol.
Tenho o coração cheio de amor*

Foi vê-la sorrir sem controlar. As gengivinhas de fora, uma riqueza.
“ é tão maluquinha enfermeira Diana… tão maluquinha"

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Muito pó mágico por cima de mim nos próximos dias.
E que o mundo pule e avance.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Miguel Portas 1958-2012

Agora sim, somos um País muito mais pobre.

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

                 António Gedeão
 
Sonhar é uma forma de se ser livre. 
Para alguns a melhor forma de se ser, ir e estar onde se quer.
Feliz dia da liberdade. 

terça-feira, 24 de abril de 2012

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Nunca fui tão sportinguista quanto hoje.

domingo, 15 de abril de 2012

Dos bons vizinhos

Nunca mais digo mal dos algarvios. Nem que são pouco dados, pouco amigos pouco prestáveis e menos sorridentes. Ontem à noite foi ver o prédio todo de pijama a tentar salvar a minha chave do carro e de casa do poço do elevador. Fiquei apenas eu e os sacos do jumbo abandonados, sem telemóvel nem opção para passar a noite. Mas eles trouxeram lanternas, e cabos com íman, e calma. E ajudaram tanto até tudo estar resolvido.
Todos algarvios.  

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Noites de insónias

 E dias de sol. Em que só queria uma bicicleta com cestinho à frente para os aproveitar ainda melhor. E branca, sempre a imaginei branca.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

:)

Há dias cheios de esperança. Cheios de boas noticias que no enchem o coração, mesmo que as boas noticias demorem a tornar-se realmente boas, depois do coração acalmar e tudo devagarinho começar a fazer sentido.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Do partilhar casa VI

Pois que ontem tínhamos porque tínhamos de ir jantar fora. E que eu não podia ir ao ginásio porque uma vez que ía fazer noite, depois não dava tempo e tal e tal. E eu tentei desmarcar-me mas era muito muito muito importante. Lá me convenceu com a desculpa de que víamos o Sporting Benfica e ia ser muito bom. Lá fomos.
Já no carro, o meu querido companheiro de casa, conta-me que aqui havia um arranjinho. E que íamos ser três. Nós e um futuro namorado para mim. Que ele era muito interessante e que eu ia adorar conhece-lo.
Hoje deixei-lhe uma lista de requisitos para possíveis encontros. E deixei claro que, sendo eu uma mulher orgulhosamente próxima dos 30 anos, já não acho graça a crianças com cara de Ken, loiros, de olhos azuis, com peito depilado, dentes perfeitos, conversa de dar sono, e com a aparência do meu sobrinho mais velho.
Ele diz que, da próxima me leva um ciganinho, que vai mais dentro do meu género. E concluiu com a expressão.  Didi, filha da minha alma há uma palavra que te define – insatisfeita.
Estamos bem.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

J. parte 2

A J. outra vez. Ausente e longe, muda ou verborreica. Hoje esteve comigo aproximadamente 15 horas. Uma manhã para lhe dar banho, para a fazer comer. Horas para que beba um copo de água, horas para que coma uma colher de iogurte, segundos para que devore uma fatia de bolo de chocolate com 1g de Paracetamol triturado dentro dela. Alívio, talvez a febre baixe.
À tarde consegui senta-la no cadeirão. Ás 19h sento-me numa cadeira ao seu lado, pede-me a mão. Chama-me mamã. Mamã, mamã, mamã centenas de vezes. Digo-lhe que não sou a sua mãe, como podia eu ser sua mãe J? Ela continua. Centenas de vezes a repetir-se enquanto me abana a mão. Mamã, mamã, mamã. J. não sou sua mãe, não podemos ser antes amigas? Ela começa. És minha amiga? És minha amiga? És minha amiga? Horas nisto. Sou, respondo. És minha amiga? És minha amiga? Sou J. ela continua… eu vou perdendo a capacidade de me manter calma. És minha amiga? Não sei J. Sou? O que achas? Ela responde. Mamã.

sábado, 7 de abril de 2012

Mesmo pessoas que não achavam piada a nada conseguiram rir até às lágrimas

               
Não consigo ouvir uma conversa nem achar piada a nada. Estou especialmente (ainda mais do que é costume) melodramática. Prometo melhorar. Já agora podia parar de chover, podia ter uma folga e podia voltar a dormir bem. Grata.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Do partilhar casa parte V

Eu na cozinha a cantar enquanto cozinho arroz de feijão com coentros: "um dia vamos ver os foguetões levantar vooooooooo a rasgar nuvens... rasgar o céu... mas que eu morra aqui se um dia eu não te levo à america nem que eu leve a america até ti"
Ele entra e diz
- Até que cantas bem Di...podias gravar um cd de músicas para crianças.

J.

Ela é uma dama velhinha e cheia de classe. Foi ao bloco operatório ontem ficar sem metade de uma perna, corroída por uma infecção malvada que não houve forma ser controlada. Tão velhinha, tão pequenina, tão sem opção, tão sem compreender o que se passa, tão sem conseguir decidir por si própria.

Regressou ao internamento calma, quietinha, como se nada tivesse acontecido. Olhava para mim e dizia-me "mademoiselle mademoiselle", diga-me o que precisa, o que lhe dói? "Mademoiselle, mademoiselle"...Repetiu-se milhões de vezes, não disse mais nada, não respondia a mais nada, olhava para mim sem me ver, e repetia-se mais uma vez

Já de manhã pediu-me, podemos ir embora madame?
E eu disse-lhe que sim, que podemos. Podemos ir embora querida J.
 
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